domingo, 23 de maio de 2010

ESPELHO

Eu ouvia seus passos, entrando sorrateiramente. Arrastando-se pelo monte de idéias até então, aparentemente inóspitas. Mergulhava como se pretendesse fundir-se a elas.
Afogava-se mas não se entregava. Sentia-se tão a vontade em esbanjar o pensamento alheio em que mergulhava.
Não era seu!
Seguiu atento, os olhos que o espiavam. Frente o espelho, uma imagem desconhecida.
Face a face. Não soube dizer quem era. Talvez não pretendesse isso. Tivera medo?
É melhor deixar! Penso. Então me permitam deixar. Não é justo prender-me a isso.
Pelo menos não por enquanto.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

DISFARCE POÉTICO

Nem verso, nem resto...
É tudo que espero de você agora, entende?
Quando eu pedir me abrace, me abrace mesmo sem pudor, sem medo...
Prometo não contar a ninguém que você me ama ou me amou.
Prometo guardar nosso segredo a sete chaves, enquanto houver esse medo em você.
Só por favor: NÃO ME MATE!
Não permita que me façam isso também, pois eu faria o mesmo por você.

Tenho ainda um último pedido.
Salve minhas memórias, nossas lembranças, não deixe que o tempo, minha dor ou minha ignorância as perca. Nem que eu não as lembre mais, faça de tudo para que mesmo longe de mim elas não sejam perdidas.
É tudo o que temos em comum agora, além de ser totalmente assim... Como ninguém.

Perdoe também os meus pensamentos...
Eles não tem culpa de ir e vir tão rapidamente, não acha?
Eu apenas penso e quando vejo eles já foram.
Você é a única pessoa a quem conto os detalhes da minha ignorância, da minha rispidez.
Não se assuste quando digo que você é uma coisa boa em minha vida.
Você é...
Meus pensamentos pra você foram, estiveram, estão e sempre estarão nus.
Você supre a minha necessidade de ser transparente.

Não quero você perfeito. Quero você com todos os seus defeitos e quando eu não puder aturar isso, me lembre desta frase: "Eu falho as vezes!" Aliás, você sabe.
Não tenha pressa em dizer que me ama. E me lembre disso também, quando eu cobrar instintivamente.
Vamos ser assim:  Você é você em qualquer circunstância e eu serei eu em qualquer momento.
Use quantas máscaras precisar. Me diga as verdades que eu precisar. Finja se necessário. Guarde se correto. Brigue se for impossível. Ame se for possível.
Faço por mim, o que faria por você. Faço por você o que faria por mim!
Escolha-me a dedo em qualquer situação, onde caberemos nós dois.

Se eu te sufocar...
Se eu te prender...
Se eu te der medo...
Se eu te perder...
Se eu te esquecer...
Se eu não te ver...
Se eu não te amar...
Se eu não te fizer sorrir...

Não foge! Só me recorde!
Minha memória tem brilho. Se você resgatar isso todos os dias. Se ainda houver algum tempo pra eu me perder...
Eu volto, pois saberei bem que tenho lugar seguro e pronto para retornar.
Se importa de começar todos os dias do início? Eu não.
Prometo, todos os dias te ensinar o que é amar. Vamos desde a primeira lição.
A matéria não é fácil, mas com jeitinho se aprende o que se pretende.

Haverá sempre um pretexto entre nós para ficarmos juntos...
Então, não disfarce.
Deixe as coisas acontecerem que de tempos em tempos, o tempo nos leva ao nosso lugar de destino sem cobrar.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

A dor é o que nos mantém vivos...

É.
Não lhe devo satisfações, mas quem disse que você liga para isso?
Somos muito iguais não?
Sim, somos.
Passei por uma experiência incrível ontem...
Minha vó sempre dizia, que quando criança ela tinha muito medo de brincar em frente ao espelho a noite. Ela acreditava que dentro do espelho morava algum demônio e que se ela brincasse a noite frente ao espelho ele viria quando ele estivesse dormindo para lhe fazer algum mal.
Confesso, que alguns anos atrás eu ficava horas e horas tentando imaginar essa situação, em que um demônio saltaria do espelho para me pegar a noite simplesmente por ter me divertido com a imagem refletida no espelho. Depois me esqueci e nunca mais toquei voltei a essa memória.
Não até ontem...
Ontem foi importante.
...

Encontrava-me só em casa. Ainda não era noite, mas parecia noite.
Entrei em meu quarto e me vi frente ao espelho escancarado em meu guarda-roupas. Observei bem a imagem. Umas duas ou três vezes, fui a ela e voltei, observando cada curva, nuances e imperfeições do rosto estranho.
Era eu? Sou eu? Pensava. Mas estava tão diferente. As mesmas curvas, mas havia algo por trás da máscara que não era compatível.
A vinte anos que me vejo. A vinte... Eu não era assim. O que poderia ter acontecido? Será que durante anos eu não seria capaz de me reconhecer?
Veja bem! Não sou eu, mas sou seu!
Perceba!! Encare!! E seja honesta!! Quem é a personagem frente ao espelho? Numa busca desesperada. Pensei e repensei a teoria da minha avó e veja a brilhante conclusão: Talvez o demônio que por anos havia me representado, tenha entrado de férias, saído, deposto... Sei lá... E aí, algum outro tomou seu lugar. Algum outro menos profissional, iniciante na carreira de ser outro... Por isso não tenha me refletido tão bem.
...
Besteira...
Não há o que dizer bem sobre isso senão, que realmente havia algo diferente naquela imagem, algo que na minha imensa pobreza eu não consiga desvendar. 
A imagem do espelho era fria, intensa, distante... Não podia ser eu!!
Não queria que fosse!!
Eu não posso ser assim. Não, depois de tanto trabalho para ser o que sou, dentro do que se espera...
Mais uma besteira...
Mais uma pergunta...
Se sou o que sou dentro do que espero, como dizer que o meu reflexo é menos ou mais real do que minha própria imagem que no fim desconheço.
Não me responda.
Não me fale.
Há tanto tempo, não me sentia nesse turbilhão. Volto agora sem piedade, para tentar desvendar mistérios que ficariam melhor se nunca fossem experimentados em sua nudez.
Sejamos sensatos: O mundo não está preparado para o que eu ou você queremos apresentar a fundo. Teste isso.
Vá ao centro, e grite! Anuncie a possibilidade de escancarar uma verdade. Não haverá homem em estado de consciência normal, que permaneça de pé neste local.
A verdade dói e a dor nos mantém vivos.
Enquanto a verdade nos oferecer perigo, nos manteremos longe dela. Inertes. Fingindo que ela é impossível...

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...