segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Teorias...

E então,
Como lua ensanguentada eu gritava dia e noite o seu nome esvaindo-se do meu seio para cair na lagoa tempestuosa os meus dias.
Gota a gota esgotavam-me os pensamentos...
Eu quis saber por onde andavas... Eu quis saber de onde vinhas..
Mas a grosseria dos acontecimentos... A estupidez das horas... A irracionalidade do momento me barravam...
Cada nota era singular. Única.
No entanto, legível a ponto de esclarecer-nos bem os seus méritos e princípios.
Acabo de curar-me de um traço, um viés de passado, mas ao viver, elaborei tantos que não arrisco dizer-me plenamente sana.
O meu descontrole é tanto, que arrisco a dizer que amo, sem saber porque amo.
Arrisco dar gargalhadas sozinhas de minhas gafes eruditas ou contar aquele tipo de piada, que de tanta intelectualidade, merece um Aurélio do lado e que perde a graça pelo cansaço provocado pela busca de significados.
Talvez eu seja um caso digno de estudos... Uma raridade, quem sabe?
Ahh... Traço narcisista...
Que até no mal, pretende ser o melhor e maior mal dentre todos, para se sobressair sobre quem quer que seja.
...
Depois que você descobre o seu mal, começa a pensar em porque esse mal e não outro qualquer?
Começa a se questionar nos prós e nos contras deste mal...
E tenta saber como administrá-lo, caso não consiga se livrar dele...
Começa a elaborar teorias, analisando a sua vida inteira, buscando uma causa aparente para o resultado final: Você, do jeito que é, do jeito que está sendo...
A busca?
Nem sempre alcança as metas, os significados que se almeja... As vezes se chega a outros significados menos aceitáveis, menos coerentes "para nós".
Vestir-se a caráter do seu próprio mal, não é de fato uma doçura.
A doença do amar-se... Eu diria assim... Tem um "Q" de solidão que impera em todas as horas.
É uma dor irresistível... Onde a necessidade de libertar-se, parece ser apenas uma sombra ou uma lembrança distante, que você crê que existiu, que você vê, mas não toca, porque ultrapassar os espaços da realidade pode nudá-lo.
É... A falta de pudor aqui é algo que realmente incomoda.






domingo, 21 de agosto de 2011

Saudade...

Eu queria dizer que dou conta, mas não sou capaz... E por isso é tão mais fácil enfrentar a saudade, do que a patologia do alí inalcansável...
Eu poderia com um só golpe dizer que amo, mas correria o risco de assustá-lo e afastá-lo de mim, ou ainda mais dolorosamente falando dizer que amo, poderia desencadear em você um, "eu também" e aí eu teria de carregar por uma vida inteira a culpa de tê-lo tirado de Deus.
...
... ...
Era de se imaginar... Nunca aconteceu simples, fácil, rápido, certo como as coisas certas...
Eu nem deveria ter a ousadia de ter esse pensamento... Mas ousadias nunca me deram medo...
Eu vivo dos abraços raros que demos... Daquelas duas noites fugitivas, conversando...
Dos...
Beijos que não demos e que merecíamos, pelo menos para não merecer essa inquietação devoradora...
Como posso desejar tanto e sentir tanto o que nunca foi meu nessa vida?
Eu nem se quer te toquei os lábios...
Eu nem se quer te ouvi dizer ou me dar esperanças de algo...
Como pude criar e deixar crescer isso em mim?
Ou melhor, como isso foi crescendo e tomando as proporções que tomou, sem eu perceber?
Porque é que eu tive que sentir apenas depois de não tê-lo?
Você existiu uma vida inteira longe de mim... Veio... E foi de novo para mais longe do que eu pudesse alcançar agora...
E o que eu vejo...
O que eu sinto...
É sua presença fantasmagoricamente real pulsando em cada contato que o mundo contemporâneo pode me proporcionar...
Não sentir sua pele...
Não ter o seu cheiro...
Não me impediu de recriá-lo todas as vezes em mim, quando sozinha chorei toda a sua falta...
Platão soube melhor isso... É o meu perto inalcansável... Você... O meu entre mares... Entre continentes... Entre pulsões... Entre motivos...
Entre desculpas...
Entre fingir que não sabe que amo e que ama também...
Entre entregar para um bem maior, todo o bem que poderia ser apenas meu...

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

...Pausa

Pausa pro tempo que é tempo e não pára
Que fala e amarga nasce e cresce
Se sente e se pede se mete reveste
Não teme se sonha se gosta se arranha
Encara e se abala Detesta e testa

Pausa pro tempo que é tempo e não pára
Que dobra e se cala se inala e se perde
Que teme e entende se julga e se culpa
Na morte se muda se salta se fulga
Um tanto de tanto Embalando tanto

Pausa pro tempo que é tempo e não pára
pára
separa
Se para para quem para
parada na tara imóvel na estrada se sente
arrepende e sente 
e nasce e cresce
e morre e envelhece nessa sequência mesmo
de um tempo que é tempo e não pára...




 

Doce de abóbora

Aquele foi o dia mais feliz e mais breve da minha vida...
Mesmo que eu não soubesse disso... Aquele dia foi... Não fosse o sangramento desse relato, também seria uma lembrança feliz.
Nunca me tinha visto mais radiante... Encarei-me frente o espelho, vestida de branco, esperando ser levada a você para a benção de Deus.
Aquela manhã foi sentida em cada detalhe, embora eu não entendesse bem porque... Eu senti. Sentia a respiração dos móveis, a textura do ar, o equilíbrio dos sentidos... Senti-me... Como nunca...
Caminhei na tua direção, marcha rápida para o golpe final. Casamo-nos, sem que eu soubesse que outra havia deixado com o coração amargo.
O cheiro das flores se misturava aos venenos e enquanto nos apreciávamos na valsa, nos trouxeram a falsa notícia.
Corre para a casa do teu pai e leva a tua noiva... Vai depressa, que ele não tem muito tempo...
Filho atencioso como era, nos despedimos dos convidados e seguimos a pé na estrada.
- Marcelina. Presta atenção no que eu falarei. Se alguma mulher oferecer-te algo, recusa!
- Porque querido?
- Amei uma mulher antes de ti, que não consegue aceitar perder-me. Escuta isso e obedece.
- Sim. - Inquieta e triste, e respondi. Não esperava que meu amado, pudesse ter amado outra... Mas amou... Amou-a, de certo como ainda não havia me amado.
Caminhamos depressa e não demorou muito, chegamos a casa de meu sogro, que para nosso espanto estava enrolando seu fumo nos dedos, tranquilamente.
Estranhamos... Mas decidimos ficar para jantar a pedido dele e logo depois partir para nossa casa.
Como boa nora, fiz o jantar enquanto você e seu pai se entretiam lá fora. Porque me deixaram só? Porque não estiveram comigo?
Quando a vi, estava lá parada olhando para mim com uma doçura voraz que só agora sei bem, tecendo nos olhos a maldade que me pretendia.
Trazia nas mãos um vasilhame bem apresentável com doce de abóbora. Minha sentença.
Falava baixo e embora estranhasse não a expulsei. Deixei ela se aproximar...
Deixei que seu disfarce me servisse bem...
Deixei que me implantasse a confiança...
E assim, me oferecesse seu doce de abóbora insistente.
Provei... Sem saber que provavá minha morte.
E ela se foi e vocês vieram e eu morria no meu leito de núpcias tão virgem quanto a virgem que se deitava sobre ela para morrer.
Eu disse o que tinha de dizer... É bom ser sucinto nessas horas que não se sabe quantas horas temos.
E você sumiu, num doce de abóbora...
Minha lembrança quis se sustentar em uma casa, em um quarto que não foi meu... Que não experimentou meu cheiro, minha transpiração, minhas virtudes...
Minha lembrança valgou dia e noite em lençóis que não foram meus, porque não me tocaram...
Minha lembrança se esvaiu nas horas do relógio, na parede da casa, que não pôde ser minha, porque não teve meu toque, minha síntese, minha mácula.
Fui. Mas tão presente me fiz em tais lembranças...
Quem me sentenciou sentiu... E anos mais tarde atormentada pela minha inocência, tomou duas doses do mesmo veneno no doce de abóbora.
Coisa que o filho conta... 


terça-feira, 2 de agosto de 2011

Fatos... Fotos e Estúpidas verdades...

"... Mas havia em mim, uma estúpida verdade de que as coisas poderiam ser se eu realmente quisesse acreditar."
...
Tarde da noite... Livro a livro minha inexatidão caçava... Folha a folha, nas verdades concluídas de outras mentes, eu testava a sabedoria alheia em busca de uma resposta do tamanho de minha inquietação.
Não me couberam palavras naquele dia... Quando a atravessar a porta por sua acessível ignorância e arrebentar contra parede minha concentração.
Encaramo-nos. Vi-o caminhar na direção da escravaninha, permaneci em ataque, enquanto via-o buscar nas minhas coisas, nos meus livros... Talvez quem sabe... Sua sensatez.
Eu não quis dizer uma palavra e por um instante vi-o sentar-se no canto da escravaninha, como uma criança que se aconchegava no colo materno.
- E-eu... Eu q-quero saber t-tudo. - Disse, mantendo os olhos fixos entre os pés.
- Descanse primeiro... Isso não é bem um conto de fadas... É melho...
- Conte-me!! - Gritou.
...
- Eu já esperava por esse dia... -  Disse, voltando-me para uma velha poltrona verde musgo no meio da sala. Sentei-me, encarei-o e sem mais tardar comecei a falar o que ele queria saber. - Eu já tive sonhos maiores antes e você devia saber... Os sonhos batem até quase arrancar sangue, quando não nos dizem as palavras que queremos ouvir.
Dia e noite, eu busquei as desculpas necessárias para essa ocasião e sempre encontrei a desculpa perfeita para acreditar vinda de você mesmo...
Não brinque com minha inteligência!! Basta a mim, a permissão que me dou para isto!
Você não sabia o que viveria e pensou poder sobreviver a qualquer acidente injetável de amor. Mas não o meu...
Os fatos? Bem, houve um amor e era o meu...
As fotos? Bem, se ainda vivessem poderiam dizer mais do que essas empobrecidas palavras...
Quanto as verdades... Bem, ouso dizê-las estúpidas diante do importuno fim de um romance calejado...
Eu seria capaz de desejar a sua morte hoje, mas não é bem uma questão de capacidade, nem conceitos... É uma coisa de fim mesmo...
De coisa que vai e não volta mais... Não volta mesmo... Não volte...
Bastam-me os dias que não foram de verdade... Não na sua boca...
Não pretendi chegar a isso... Sempre suspeitei que esse romance tivesse algum suspiro, mas ele tem mesmo é incredulidade e esse é o único mal que alguém que vive de sonhos, pensamentos, palavras,
como eu... Não pode combater...
A incredulidade não!
- E você quer que eu creia nos seus duendes?!
- Não. Me bastava que cresse no nosso amor...

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...