sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Motivos...

Me perguntaram um dia... Bastou a pergunta para me fazer viajar em sonhos, em coisas na busca incessante de tirar de mim a angústia da pergunta!
 
De onde vem a tua escrita?
Como puderam ousar questionar tão inquestionável questão?
Aqueles dias me angustiaram... Não houve em mim uma palavra se despejando da ponta do lápis, se chocando nos meus pensamentos. 
Deitei-me na grama olhando para cima, vendo os desenhos de Deus nas nuvens e fiz a pergunta a Ele...
Senhor?! De onde vem a Tua arte? A Tua escrita? O Teu traço? O que Te inspira?
Um desenho do céu se formava a cada vez que eu piscava e a pergunta permanecia sem resposta.
 
Nos dias que se sucederam, a tensão aumentara... Não pude mais ver na minha frente lápis bem apontados, folhas em branco prontas para os lápis...
Comecei a ter insônia... Quando não, delírios e pesadelos horríveis em que as palavras nada diziam...
Em um deles, um sonho exaustivo... Vi a poesia das canções completamente pálida implorarem por uma só vida...
Deparei-me com Drummond, mãos e pernas cruzadas, sentado no chão segurando algumas letras e tentando emendá-las.
Lispector fugia das borrachas e gritava emudecida!
Foi horrível, o pior pesadelo de todos os meus pesadelos!
Eu não mais escrevia!

Certa de que a poesia em mim, havia cessado, limpei a escrivaninha, amarrei todos os lápis em um só golpe, guardei a minha literatura e por fim, dolorosamente por fim, lacrei o cômodo dos meus devaneios... Não ousaria mais usá-lo!

Restou-me deitar na grama novamente... Olhar o desenho das nuvens...
Eu quase via o pincel de Deus, indo lá e cá, costurando sua obra de arte... 
Deus é um artista! Um grande artista! O melhor de todos!
Mas de onde vinha Sua inspiração?
Sentei-me na grama, cansada, desgastada e quase sem voz por um bolo de lágrimas que me prendia a respiração... Eu disse baixinho:
Senhor... Senhor... De onde vem a Tua inspiração? Por favor...
E a brisa soprou...
Jogando os meus cabelos para trás, inflando minhas narinas... Me deitando na grama e então  ouvi no sussurro do vento: VOCÊS...
Abri os olhos e vi no céu, todas as crianças, homens e mulheres... Muitos inacabados... 
Deus caprichava em suas obras, porque as amava e esse era Seu maior motivo e inspiração...
As vezes uma personagem se borrava... Deus parava, olhava-a nos mínimos detalhes e tecia novamente, mais atenciosamente e mais afinadamente... O traço ficava perfeito!
Todos os dias Deus me desenhava, tirando os excessos, refinando o traço, melhorando sua obra, pelo único motivo que eu jamais entenderiam enxergando pelos olhos da minha humanidade: O amor...
Era tudo perfeito!
Voltei a mim e naquele instante eu soube, que o que me movia era o amor a escrita... Fosse ela como fosse... Voltando das minhas sensações, corri para o cômodo da escrita, onde encontrei todas as coisas postas...
Talvez nunca chegarei a ser uma grande artista... Na verdade, eu sou uma obra inacabada, meio borrada as vezes...
Na verdade, não acredito na coisa do ser artista, mas de ser uma colaboradora, uma copiadora do grande artista, DEUS...
Toda a arte que sai de mim, brota n'Ele antes... Toda a minha fala, canção, etc., começa n'Ele e cessa n'Ele.
Vem d'Ele, passa por nós e volta para Ele, como um bumerangue que onde passa, passa fazendo o bem a todos nós...
Somos reprodutores dessa obra infinita de amor...
Um amor que não precisa de motivos...
Que ama primeiro...
Nós somos parte e colaboradores da obra de Deus...
Todo dia Ele nos desenha, nos tece, nos compõem, nos esculpi, nos melhora...
Deus é toda a arte na minha vida... Eu? Sou apenas um traço, por vezes torto, mas que Deus insistentemente tenta indireitar, porque ama...
Se você não ama, porque não vê motivos...
Entenda, que o maior motivo para o amor é unicamente amar...

Ahh... Suspiro...
E eu?
Posto minha alma a céu aberto... E posso me levantar todas as manhãs e sentir que tenho Deus, me esperando para conversar na janela...


quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A Bolinha de Gude...

As lembranças íam e vinham naqueles dias... Quando a noite chegou abraçando as primaveras, a moça se sentou na varanda e pois-se a lembrar.
Quando criança roubara de seu melhor amigo uma bolinha de gude singular... Eles a haviam encontrado debaixo do grande carvalho, enquanto brincavam no mosteiro.
A menina encantadora, desde cedo, aprendera a usar os artifícios femininos para conquistar o que por ordem do destino não estivesse plenamente ao seu alcance. E bobo, como todos os machos, os pequenos homens, cediam.
A bolinha de gude tem de ser minha... Você não vê, como combina com os meus olhos?
E assim, ela o enfeitiçava...
Naquela ocasião, o menino choroso abriu a mão vagarosa para dar-lhe a tal bolinha e sorriu recolhendo a mão novamente.
- Dou-te a bolinha, se me deres um beijo. - Assustado com o que disse, ele apertou os olhos, esperando ser reprovado grotescamente pela bela menina.
- Não posso beijar-te... Os meus beijos estou colecionando para dar ao meu futuro marido. Só ele! - Respondeu ela sendo docemente venenosa.
- Mas e se for eu, o teu futuro marido? - Questionou ele e fez com que a menina se desmanchasse. A sua armadura de bela e sedutora, havía começado a ruir. Ela não soube dizer e seus artifícios não lhe valeriam nada agora.
O olhar da pequena ficou distante, denso e desigual. Por alguns instantes ela viajou no tempo, saindo de sua infância, passando pela mocidade, chegando a vida adulta e espiando a velhice, mas não conseguiu ver o rosto de seu pretendente e nem reconheceu seus gostos. Houve na menina então, a maior inquietação, pois sua mãe não lhe havia ensinado nada sobre isso.
Quando retornou para a idade em que se encontrava, levantou os olhos e viu de novo a bolinha de gude singular.
- E então?- Perguntou o menino, dando-lhe um estalo de realidade -  Quer a bolinha ou não?
- Me dê ela, que eu te dou o beijo... - Disse maliciosa.
- Se você tomar de mim. Conto para o seu pai, me entendeu? - E a menina sorriu, pegou a bolinha de gude analisou e a beijou docemente. Depois devolveu-a ao menino e disse.
- Tome-a pra você. Está aqui o seu beijo também. - O menino pegou a bolinha derrotado e analisava tristonho, pensando que seu plano não havia dado certo. Então ela completou. - Eu não pude ver no meu futuro, o rosto do meu amado esposo, mas ainda terei muitos beijos para dar a ele, quando ele chegar. Pode ficar com a bolinha, mas agora ela é muito especial. Você não poderá dar a ninguém e se for você o meu esposo, um dia, essa bolinha volta pra mim.
Aquelas palavras tocaram suaves o coração do menino. Talvez fosse uma missão pesada demais, mas ele não voltaria atrás.
Pegou então a bolinha de gude e beijou-a, guardando-a em seguida no bolso de seu paletó.
- Eu vou guardar e vou voltar e quando eu voltar, você vai ter que cumprir o que prometeu! - Disse rindo.
A moça na varanda sorriu com aquela lembrança boba... Ela ainda não havia dado um beijo se quer. Havia guardado todos os beijos em uma vida para aquele que seria seu amado para sempre.
O tempo havia se encarregado de afastar as duas crianças e ela nunca mais soube do menino e da bolinha de gude.
Sozinha, sentada na varanda, ela ria de si e da sua ingenuidade. Havia se tornado tão formosa quanto era quando menina, mas a formosura não pode contra a maldição da bolinha de gude.
Três pretendentes ela rejeitara e todos após a rejeição haviam morrido, sufocados pela falta de amor da moça.
Ela mantinha-se só para a tristeza de seus pais e alegria das más línguas...
Certa tarde resolveu e anunciou na cidade:

"Eu perdi um beijo há muito tempo... Sem ele não posso me comprometer.
Aquele que me trouxer o meu primeiro beijo.
Deverá saber... Que o meu amor sempre foi seu!"

Crente, que o beijo da bolinha de gude, de novo ela teria, a moça aguardava...
Vieram rapazes do mundo todo, traziam as bolinhas de gude mais incríveis. Um príncipe da china trouxe uma que tinha pedaço da lua dentro, um czar trouxe uma bolinha de gude, que continha um pedaço da história de seu povo e a poeira dos pés de Hitler... Mas a moça a todos recusava, pois embora belas... Não era a bolinha de gude que ela procurava.
Um dia já descrente, a moça sentou-se na varanda novamente, os rapazes do mundo todo, ainda aguardavam que sua piedade e generosidade a fizessem olhar para algum deles. Mas ela apenas disse: - Eu sinto muito... Vocês vieram, mas não posso dar-lhes a minha mão, pois ela já foi dada a algum desconhecido, que deve de mim ter se esquecido. Voltem para seus lares, seus países e deixem-me. Não quero ter o que não me pertence. Deverá haver outro amor para vós que os espera ansiosa.
Aquelas palavras provocaram um grande rebuliço. Os rapazes já a tinham como oráculo do amor. Em vez de raiva, eles entenderam as palavras da moça como profecia e obedientes retiraram-se todos, provocando no país onde passavam, grande euforia e tumulto a procura de seus amores. Houveram casamentos em todo o mundo, muitos de uma vez só. Foi preciso que os padres organizassem casamentos comunitários para dar conta de todas as vontade de se casar.
Mas a moça... A moça ficou sentada na varanda, esperando que lhe trouxessem a bolinha de gude singular.
Os dias passaram... Um ano depois, as velhas já se reuniam para mal dizer e rir da moça que não se casava. Primeiro, ela se tornou uma lenda. Depois, se tornou um mito. Por fim, se tornou nada e ninguém mais se lembrava.
Um dia varria a porta de sua casa, um homem de chapéu bem arrojado se aproximou e perguntou.
- Foi a senhorita que perdeu um beijo há muito tempo atrás?
- Sim. Fui eu, mas não acredito que vá encontrar mais...
- A senhorita já desistiu?
- Não queria desistir... Mas tanto tempo...
- É pena... - Então o homem pôs ao lado da moça que já se havia sentado na escada da varanda, um objeto redondo azulado e brilhante. - Eu tinha esperança que a senhorita ainda acreditasse, porque eu sempre tive em mim a crença, de que um dia poderia vir aqui, para dar-lhe isto.
Os olhos da moça, encheram-se de lágrimas, o beijo ali como naquele dia há muitos anos. Pegou a pequena bolinha e a deslumbrou e a amou.
- Bem... Eu guardei, como você me pediu. Agora cumpra o que prometeu...
O rapaz agarrou-lhe pela cintura juntando-a a seu peito e ela sentiu seu cheiro. Seguraram a bolinha de gude juntos. Ela deu-lhe seu beijo e ele lhe deu ou dele.
Nunca mais saíram dali.
Conta a lenda, que os dois não mais se desgrudaram... Em frente a casa onde tudo aconteceu há uma estátua... A bolinha de gude que lá está é a verdadeira e ninguém ousa tocá-la. Pois não querem prender o primeiro beijo em uma bolinha de gude...
Algumas pessoas dizem, que em noites de lua azulada, a estátua ganha vida e pode-se ver o casal, brincando na grama, como os meninos que foram há muitos anos...


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O que eu te fiz....

Tudo bem então...
Consegue se imaginar vendo seus sonhos se desmanchando como papel jogado na água?
Assim me vi esses dias...
Me acostumei a ter os planos em mãos e de repente isso...
O engraçado é ver como seus planos se parecem com os meus, quando já não fazemos planos juntos.
Você consegue dizer cada coisa que eu queria ouvir e ver em você que me deixaria realizada... E acho que é aí, que está a coisa que me fere.
Fica aquele sentimento de incompetência, quando olho para nossas vidas juntas tão separadas e quando as comparo as nossas vidas separadas tão juntas... 
E vem aquela inquietação, das coisas de Deus e todas as vezes que rezei, implorando por sua conversão, indignamente, mal tendo a minha...
Fica em mim, aquela voz insensata que se rasga em meio as novas descobertas, do ser solitário escravo de amores passados.
Em Deus, repouso agora... E toda a minha inquietação cessa num desejo ardente de que suas palavras não sejam mentiras, porque não é a mim que prestarás contas das tuas iniquidades, mas ao próprio Deus, quando Ele vos chamar, assim como eu...
Eu? Estarei lá, creio! Sabendo-me culpada de todas as minhas falhas... Todos os meus deslizes...
Hoje, não vim colocar aos pés da cruz, minhas virtudes ou dons, pois esses Deus já os têm, desde antes de mim, quando me resolveu dar vida no seio de minha mãe, adorável genitora.
Hoje, apresento aos pés de Tua cruz Senhor, as minhas faltas, falhas, iniquidades, as mágoas que eu causei e que permiti... As mentiras que disse para saciar o meu miserável ego... As vezes que me omiti, tendo conhecimento e discernimento sobre as coisas que meu Diviníssimo Senhor, me mostrara.
Quero mostrar Senhor, a peça medíocre que me tornei, quando quis desviar os meus olhos de Ti.
Não porque, acho belo... Mas porque quero mostrar, o nada... O vazio... A coisa negra que tentava romper minha alma e a de outro através da minha falta de amor ao Teu amor.
Quase perdida... Quase vencida... Quase morta eu estive... Mendigando escravizada e fazendo mendigar e escravizar a outro, a quem me dera para ensinar o amor salvívico...
Aquele amor, que um dia, descansando me perguntava: Sou eu o teu primeiro amor? 
E respondi: Não... - A que esperei perguntar, para continuar a dizer - É Cristo, o meu primeiro amor! Você me vem depois... - Coisa que não aconteceu...
Eu falhei Senhor... Não pude abraçá-lo, com as mesmas intenções que me pedias... Não consegui levá-lo a Vós, sem afastar-me.
Não consegui não julgá-lo e ensinar o verdadeiro amor, que só é possível em ti.
Senhor... Eu falhei! E a culpa me consome, porque eu poderia ter sido melhor...
E se ainda puder pedir algo... Peço-Vos, pela vida miseravelmente igual a minha, para a qual não fui exemplo... Ou pela qual não tive zelo... Aquela que deixas-Te aos meus cuidados, para cuidar Contigo, meu amado Senhor.
Senhor, os Teus dóceis caminhos, hoje me são incessantemente desejáveis... Poderei eu, aproximar-me de Vós, tendo tantas vezes, dado-lhe as costas?
Eu fui Teu espinho... Teus cravos nos pés e nas mãos... O peso exorbitante da cruz que castigava seus ombros... Fui aquela surra... Aquela escarrada certeira na sua face... Eu  fui o beijo de Judas... E permiti, que outro também o fosse.
Faz nascer óh Senhor, na minha vida pobre e na vida pobre a que relato neste texto, o desejo mais ardente, mais fiel e incorruptível de amar primeiro o Vosso amor...
Ele deverá vir primeiro! Antes de todas as coisas... Antes mesmo de mim... E possuir-me de tal forma, a que todos os que me virem, o vejam antes... Não por mim, que sou miserável e fraca... Mas por Vós, que me amaste primeiro!
Desprendida do mundo! E de mim, despojada! Assim desejo... Amar o sofrimento, a dor de ser cristã... Ser luz e sal nesse mundo... Olhar com olhos de ternura o cansaço e sorrir ao fim do dia, sabendo-Te em minha vida, como grandes amigos, inseparáveis...
Sabe Senhor... Os dias têm doído... Mas abraça-me e tudo ficará bem...

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...