sexta-feira, 25 de maio de 2012

Águia

Que vontade de ser águia hoje!!
Não se explica isso...
Ir bem alto e olhar para baixo, revisando umas pegadas na areia que nem a água do mar são capazes de apagar...
Mas águia não sou!
...
Fecha os olhos peregrina...
E está lá sempre, eu sei...

Está lá... Vítima de si mesma? Culpa?
Silêncio!
Façam silêncio...
Lá no fundo está...
A última nota encandecente...
Fecha os olhos e curve-se em preces a Deus que volta os olhos para ti.
Prostrada, estarás em pé, mesmo que aos olhos do homem assim, não sejas vista...
...
Nessa noite... 
Especial para nós... Valsaremos aquelas recordações novamente...
Meu vestido, pronto para o último feito... 
À cor do sangue fulgente... Como que vivo nas veias mortais, agora raso na imortalidade...
...
Vívido lençol noturno amparo destes filhos que se recolhem ao teu alento.
A mim, peregrina, permita também revigorar-me no teu seio, quando enfim, anjos velam e se unem ao coro dos mortais para cantar.
Sois também como nós... Filhos, irmãos, pais, mães... Criaturas no centro das mãos do criador...

Ah... Bem soube o dia ver-te...
Mas bem aventurada a noite que O teve para si e o ventre escolhido para abrigar-Te.
...
Vela a noite transeunte...
Veja-a passar, pois que se faz entre nós recordando-nos a prima restauração da dignidade de alma afastada de nós por nós.
Vela a alma arisca, cega e vulgar... Que cansada de si, não cumula forças para erguer-se.
...
Ah... Alma vadia... Porque se vai assim?
Levanta e anda! Vai-te para a glória! Não insistais nisso... Não vos inclineis para perda, pois não foi a isto que vieste.
Alma inquieta... Onde está o teu sossêgo? E a riqueza, tua herança? É incólume?
Vem para a luz! De onde nunca o deverias ter saído...
Resguarda-te das sombras! Livra-te do pecado e vais adiante onde o Soberano espera.
Olhos atentos, alma... Não mendigueis... Sois meu e de mim terás teu ânimo.
Revigora-te em mim e permanece comigo!
...
Sê peregrina nesta terra, onde semeei tua vida!
Sê suave na tua passagem porém visível aos teus irmãos, de tal forma que se luz tiveres, tenham eles também e sejam um!
Sê peregrina nesta vida e recorda-te, de onde vens e para onde vais!
Seja certo o teu trilhar nesta terra e que ele possa ser lembrado em todas as gerações, pois que se viu a mão de Deus pairando sobre a terra seca, torná-la úmida!
...
Quando em Deus pousares, lembra-te dizer-me então, se enfim, não és águia...

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Coisas do entre mundos...

- Vou embora...
- Para onde?
- Para o lugar dos meus sonhos... Onde estão os meus planos... O que eu plantei e ninguem viu...
- Esse lugar que ninguém sabe e onde realizo todos os meus desejos...
- Eu não sou ali, nem mais e nem menos humana...
- É indolor...
- E o cheiro?
- Ah... É agradável... Não há descrição!
- Vais partir então?
- Sim...
- Para onde?
- Para a terra dos meus sonhos...
- E vais partir só?
- E porque deixar-te conhecer meu mundo?
- E queres ir assim então, sem se despedir?
- De que? De quem me despedirei?
- Não estive na sua vida...
- Estive no meu e agora ele está pronto, posso ir sem medo...
- Põe o seu mundo pra fora menina!
- Não!
- Egoísta... Nem queres dividir nada...
- Não! Dá-me motivos para assim querer...
- O que tem no seu mundo?
- Tem eu, uns contos, Deus, meu anjo da guarda, algumas flores, campo aberta e montanhas glamourosas, meu chalé, a cadeira de balanço, uma biblioteca e meu piano...
- E nada disso queres dividir?
- Porque dividiria?
- Olha, pensa bem... Eu queria conhecer seu mundo...
- E o suportaria?
- Deixa-me tentar?
- Os portões sempre estiveram abertos... Mas cuidado onde pisas...
- Porque?
- Coloquei entre as flores algumas armadilhas...
- Não desejas visitante então!
- Os portões sempre estiveram abertos!
- Mas e as armadilhas?
- Vieram depois, quando eu soube que meu mundo era insuportável para muitos... Convidei muitos... Mas quebram as flores... Quebraram minha fonte... Demorei anos para fazer pulsar de novo... ele...
- Quem?
- Um coração... Ainda funciona meio quebradiço, não sente mais por outros, mas pulsa e quando pulsa, faz-me ir ao meu mundo, ficar lá, morar lá, ser de lá e acreditar que nada sou daqui.
- És fria?
- Não. Quimera... Um ser lá e cá, entre as montanhas e prejuízos causadas por outras vidas a minha vida. Esse resultado que ninguém mais quis. Essa experiência rejeitada...
- Eu te queria, todo prejuízo pra mim... Experiência rejeitada, eu te aceito assim...
- E as minhas feras?
- Elas também...
- Essas coisas que a poesia faz... Dão lugar até as feras...
- E ainda vais partir?
- Vou... Não tenho motivos pra querer ficar longe...
- Então porque vai? Pare de jogar a culpa em mim, no outro, me você... Se não quer mais minha cia, apenas assuma isso... Eu saberei sofrer sua ausência, mas saberei respeitá-la... Saberei doer as coisas q ñ teremos, aquelas q planejamos... Se tiver de ir vá, mas ñ olhe mais para trás... Não me permito ser visto em prantos...
- Acreditaria se eu te dissesse que me criaram para ser sozinha?
- Não! Mas acreditaria se me dissesse que tem medo de ter alguém... Acreditaria se me dissesse, que pra você é mais fácil não ter, porque aí não pode perder...
- Não existem perdas, quando em comum acordo decidimos não perder... Mas enfim, quem sou eu para dizer... Ainda assim, vou!
- Vou contigo?
- Se queres vem, mas não me responsabilizo pelo que terás de enfrentar...
- Não me importo, só deixa-me ir... Eu também sei matar dragões...
- E lá o problema é matar?
- Não?
- Não!
- Qual então?
- É olhar nos olhos... Nos olhos do dragão... Consegue?
- Morro antes, se o tiver de fazer...
- Entra então

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...