sexta-feira, 27 de julho de 2012

Escrita para apelar uns escritos...

E as vezes quando saio aqui fora para ver o mundo, me vejo alvo da gargalhada dos outros, porque penso...
É assim... Pensadores são objetos estranhos no meio da sociedade...
Mas de repente você golpeia uma palavra ou outra em algumas linhas e se alguém gostar, partilha!
Pasmem!
Mal sabem a alma que ali deposito... Nem quero que saibam... Um ou outro, estranhos reconhecíveis permito saber que ali me encontro...
Os muitos personagens de uma história, leia-se as caras, máscaras, faces e facetas de um escravo escritor...
E quando a obra sai, flui como o ar que dá e destrói lentamente a vida, o autor se desmancha... É deleite, a obra pronta!
Cada capítulo tecido minuciosamente como a mortalha de Penélope para Ulisses, que contrariando a história não se desmancha a noite...
Nunca satisfeito, o autor emenda palavra por palavra... Escrita por escrita... Esconde alguns versos.
Ele sabe que se expôr ali na íntegra... Bem, o medo da crítica de si mesmo! Não preciso dizer mais nada...
...
Escrevo um livro...
Nasceu de mim, em minhas primeiras tempestades... No nevoeiro... Na guerra... Como o diário de Anne Frank... Assim, coloquei para fora o meu primeiro demônio... E que bom, ter se desprendido em escrita!
Propositalmente parido em um velho caderno brochura sem capa... Despistar era preciso, até que a cria fosse forte o suficiente para resistir as investidas da mentalidade estúpida que nos cercavam dia a dia!
Grosseria de minha parte?
Porque devo esforçar-me para ser mais suave?
Cala-te!
Conheço bem a magia das palavras! Sendo quase necromante em posse delas... Faço-as morrer, renascer e prevejo as que nem vieram ainda no seu estupor... E contemplo! É sublime o que faz a palavra!
O meu livro?
Três partes de mim nascido... Nele, quando vinha... Era eu portadora da magia... E me fiz viva, naquele mundo entre caos e cronos, disputando o falível homem eras antes da era.
Se te contasse que fui anjo, fui sombra, guerreira, feiticeira, mago, menina, velho e tantos outros...
Também fui o olhar aberto de mar azul da esposa morta do navegante, que quando voltando das primas catacumbas deparou-se com seu cortejo e como último pedido da amada, honrou-lhe sendo o único a fechar-lhe os olhos.
Quando amanheceu naquela terra a primeira vez em séculos, eu também era cada cavalheiro, guerreiro, arqueiro, que se curvava ao primeiro rei e se dava em compromisso, para guardar-lhe a vida e a vida de suas ingênuas criaturas.
A inveja também ali e quando caíram... Eu vi!
Assim, findava a história sonhada em cada capítulo...
Eu quis contar e meio torpe, posso jurar que tentei!
Mas agora, o que de mim nasceu, de mim mesma está perdido!
Dói leitor! Não sou capaz mais de jogar palavras as contas, nem se quiser... Só tenho isso de mim agora... A dor de alguns pensamento perdidos...
Não!
Não posso reescrevê-lo... É impossível dar a luz ao mesmo filho, uma segunda vez... É querer demais de mim!
Se o verei de novo?
Não sei... Gostaria! Amaria...
Preciso tê-lo...
Como ele era?
Bem, era só um livro... Num caderno brochura velho, sem capa, escrito a mão, todas as páginas, cerca de vinte e seis capítulos, onde tudo nasceu, antes de tudo!
Foram onze anos dedicados... Onze anos da minha história de terror, sobrevivendo disfarçada neste velho livro...
Se alguém o avistar, não peço muito, por obséquio, deixem-no a mim retornar...

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Todos os mitos...

Bem aqui... É que estou agora...
E uma parte disso, deixa-me para trás indo sempre a frente sem medo mais...
Destroços espalhados por todos os cantos...
O que vem sobrando ainda é forte, mas precisa morrer, para vir de novo mais invicta!
Toda eu de novo, adormecida em cinzas... Não pretendo mais...
E me vejo eu antes e eu agora, num confronto sublime... Eras que se misturam e se concertam e se destroem... Se marcam...
Se vão...
Que tempestade essa se formando em mim?
Você tem poder para aplacá-la?
Tem forças para mante-la apenas em mim?
Que temporal agora...
Instalada está a paranoia... E a quero de volta... 
Velha Ana... Devolva-me!
Eu quero aquela menina de volta... 
Aquela, que quando as coisas batiam, a couraça era tão forte que não deixava doer tanto...
Mas agora? Agora... Eu não tenho as respostas que você procura...
E não tenho o que você almeja, porque não aprendi a ter...
Se quero? Claro, porque não?
Mas não estou pronta... E ambas as partes de mim, concordam que temos que partir...
Se vai doer?
Não tenho dúvidas, mas arrisco-me no que é preciso!
E se me odiar... Tem o seu direito...
Mas além disso, não posso!
Retiro-me então...
Mochila nas costas...
Palavras entaladas na garganta...
Uma gota de mim desdenhada no chão... Passe por cima... Nem isso de mim, merece atenção...
Viajante...
Lá se vai, mala nas costas... Não ouso olhar para trás...
A hora chega em que optarei por mim e apenas por mim...
Elevação do meu egocentrismo?
Use o que quiser para doer menos por mim... Para justificar o injustificável...
Eu deveria querer ficar, mas não posso... Tenho que ir!
Recolher-me outra vez no meu mundo e só ficar ali, em qualquer parte de mim que me cabe melhor que em qualquer parte do mundo todo...
E no fim das contas, só quero dizer...
Não é você!
Sou eu, sentindo que não tenho direito de ficar...
A alma viajante não escolhe ser assim...
Ela não se prende por muito tempo a um lugar, porque sabe que se ficar, pode sufocar!
A demanda é grande e agora vejo... Não apenas em mim, mas também em ti...
E não sei ser mais do que isso...
Daria tudo para não ser... Mas sou...
É incontrolável essa liberdade sintomática...
Preciso ir... E ainda permanecer aqui, em qualquer parte que escolher que eu fique em ti...
Já tarde... Escuto a voz do vento chamar-me...
Outros, como eu, já partem...
Queremos o centro...
O desconhecido...
O grotesco...
O dolorido...
Todos os nascidos Orfeu, caminhando sobre a terra, cantam sua canção para curar...
E nasce de novo aí, a contradição!
E nasci para isso!
Fica para vós, um pouco do que pude ser... Guarda!
É raro que eu me perca assim e me permita ser um pouco mais do que o que estabeleci em minhas fronteiras...
Sigo em canto...
Para onde vou?
Onde nascem as ondas...
Aponta o primeiro sol...
Morre a última lua...
Nascem todos os mitos...
E ecoam os gritos de outros como eu, nascidos Orfeu...

terça-feira, 10 de julho de 2012

Construções, portas de entrada e valsas...

Sabe...
Não posso mais apenas ver os pontos negativos dessa história...
Parte do que sou e toda a minha construção em si, deve-se a cada ponta de caminhada até aqui...
Ainda me construo, em cada coisa, cada pessoa... Não findei meu projeto de mim!
E nunca estarei pronta... Como desejei estar um dia...
Todo esse processo de construção é pleno!
Derrubo uma parede ali... Levanto outra... Planejo novos detalhes, esqueço-os e reinvento!
Ai... as manhãs de um construtor, nunca são iguais...
A pintura as vezes não agrada... O que fazer?
Recomeço!
Tinta nova! Novo designe... E se a parede está velha ou se tem problemas com infiltração é hora de fazer, o que vinha adiando por anos... Reconstrução!
No meu lar... Há um espaço de mim, que deixei para visitas!
Muitas são breves... Embora o meu desejo seja de que fiquem por mais tempo... 
Ali na frente, descubro que realmente não tinham de ficar... Tinham de seguir...
Passar apenas, com alguma lembrança boa ou não, para me ajudar nessa construção!
Outras, permanecem, eu querendo ou não!
Vassouras atrás da porta, não adiantam! Cansei de fazer isso e no fim aprendo que a melhor solução é devolver toda aquela atenção...
Nessas histórias de idas e vindas... Vi muitos "amores", morrerem de excesso de carinho...
Outros... 
Os amores mesmo... 
Vi morrerem por falta dele. E ficarem a míngua, em um desvão... 
Nunca são descartados... 
Sabe-se lá, o dia que o amor floresce...
Tudo nele é uma incógnita!
E amo isso!
Não planejo essa parte e é toda ela que dita a regra da casa...
O amor em seu excesso...
O amor em sua escassez...
Quando retornam as minhas visitas, abro sem esperar a campainha... O traço que fica... A memória do cheiro delas e suas construções já me dizem como ser, se as quero depressa ou não!
Um chá? Suco?
Bolachas por favor...
Conversamos sobre novas tinturas e espessuras... Queremos o novo, mas é difícil descartar o velho...
Por debaixo dos forros...
Entre as camadas de cimento e tijolos... Lá estão todos os corpos! Todas as almas... Caras... Máscaras... Perfis e perfis de uma vida inteira...
E desenhei meu salão para valsar, qualquer seja o repertório!
Pés de bailarina para isso! Sim, eu tenho!
Anos e anos... E sei dançar qualquer sentido... Estudo os passos alheios e semeio-os para mim, plantando-os em meu jardim, esperando a hora certa de colhê-los...
Quem me vê valsar sua música a primeira vez, dirá ter eu mesma a feito... Mas não!
Esse detalhe na casa é de minuciosa observação... Traço da família... Tanto eu menina, quanto eu moça, eu velha...
Aquelas todas, que você conhece em parte...
A dona da casa esperta, nunca mostra ao convidado todos os cantos da casa...
Há sempre um lugar seu... Que ele pode ver de longe!
Pisar lá?
Uma vez ou outra, rapidamente... Se for conveniente... Mas na maior parte do tempo...
Minha casa, caro leitor... Permanece de portas abertas... Se passar rápido por mim, nem me verá assim...
Se passar depressa também, não merece ver o que tem!
A cadência da valsa... Sou eu quem dito! Dançando sua música ou não...
Ai ai... E passamos de construção a portas de entrada e valsas...
Que coisa mais diversificada, a coisa toda de um construtor!

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Pequeno barco (Sessão desabafos)

"Quando foi que tanta coisa perdeu o sentido?"
Me fiz essa pergunta por semanas Anna e a resposta ainda permanece embaixo da névoa...
Li sua carta várias vezes... Senti sua carta várias vezes, como se fosse minha escrita partindo de você...
Aí me sentei aqui várias vezes para escrever o que eu sentia e de repente, por um turbilhão de emoções, a escrita entalava na garganta, se espremia no peito e me esmagava com toneladas de solidão que vinham de todos os lados...
Ai Anna... Se eu pudesse não ter esse coração desse jeito... O que seria de mim?
Você se disse barco e me recordei de um desenho da Disney que gostava muito de assistir quando criança.
Vou relatar aqui brevemente essa historinha, para que você entenda meu ponto de vista.
Era um barquinho pequeno, que sonhava em ser como os grandes cargueiros que íam para alto mar e retornavam contando suas aventuras... Sempre impressionado o barquinho dizia para si: "Um dia, serei grande como eles e farei grandes coisas, como eles fazem... Serei reconhecido! Serei forte! Vistoso e imbatível!". Assim, o barquinho seguia... Sempre sonhando, com o dia que em que se tornaria uma embarcação de grande porte... Deslumbrado com as histórias vivenciadas pelos barcos maiores.
Mas a vida passava... O barquinho não crescia e nunca, nunca tinha grandes aventuras para contar, porque era um pequeno rebocador, com pouca potência e que ficava na redondeza, "auxiliando", as embarcações velhas, que perdiam suas forças no grande mar.
"Eu queria ser maior! Queria fazer mais! Não aguento ser esse ridículo barquinho, que todos caçoam, porque só serve para pegar os velhotes." E o barquinho se entristecia... Nunca era chamado para grandes aventuras. E os barcos maiores riam de seus sonhos, fazendo-o se sentir ainda pior.
Havia uma grande embarcação orgulhosa, que olhava para o pequeno barquinho e o menosprezava. Ria de sua pintura desgastada, do seu tamanho, do seu apito fraco, etc..
Ahh... Aquilo doía! "Talvez eles tenham razão... Nunca serei alguém de importância... Sou muito pequeno... Não sou forte... Não sou bonito..." O barquinho chorava e todos continuavam a rir dele.
Certo dia, as embarcações saíram além mar para uma missão muito importante... E mais uma vez, o pequeno barco ficou no porto, esperando a hora de ser chamado para o seu tão vergonhoso trabalho.
De certa forma, à aquela altura, o barquinho já havia "se conformado"...
Aconteceu naquele dia, no entanto, uma grande catástrofe no mar e as embarcações de grande porte, foram bombardeadas ficando impossível de continuarem sua missão.
Sem opção no porto, pois estavam ali, as embarcações velhas, sucateadas e sem forças, olharam pela primeira vez para o barquinho e o capitão tomando seu leme, direcionou o barquinho para onde estavam as outras embarcações.
ERA A ÚLTIMA ESPERANÇA!
Já desacreditado, porém obediente, o barquinho se colocou a disposição e segui para o mar... Certo de que não seria capaz de realizar meia viajem com seu motor fraco...
Ao chegar onde estavam as grandes embarcações, o pequeno rebocador encarou a situação... Barcos destroçados... As grandes embarcações que riam dele, padeciam...
Com pena, o barquinho navegou entre eles... Dando óleo a alguns... Retirando os mais feridos do meio da confusão e levando-os ao porto...
Quando retornava para buscar mais um, eis que uma grande tempestade tomou conta de todo o mar, diminuindo a visibilidade e fazendo com que as grandes embarcações que ali estavam, ficassem a mercê do tempo...
O barquinho corajoso, cortava o mar, buscava mais um e voltava para buscar outro... Nem se importando com as condições do tempo. "Preciso ajudá-los! Se eles estragam ali, muita coisa pode se perder e não tenho força para fazer muito, como eles fazem." 
Assim, o barquinho trabalhou uma noite inteira, até que por fim, retara na madrugada, a grande embarcação que havia caçoada dele por toda uma vida.
O grande barco disse: "Pequenino, não há nada que você possa fazer por mim... Vou afundar aqui... Pois meu motor está fraco, visto que passei a noite toda tentando manter-me estabilizado para não virar e perder toda a carga... Você já tirou de mim, um grande peso, mas ainda assim, não tenho forças para levar-me ao porto. Por tudo o que te fiz, deixa-me aqui." 
A pequena embarcação, no entanto, tomou seus cabos e entrelaçando-os na grande embarcação, forçou... forçou... forçou e moveu-a com todo o cuidado e zelo.
Àquela altura no porto... Os outros barcos, já começavam a desistir e lembravam da bravura do pequeno barquinho, que havia passado uma noite toda resgatando-os com firmeza, para que todos se salvassem.
De repente, quando ainda comentavam, surge no horizonte uma pequena mancha. Estasiados, correram para ajudar o barquinho e viram o que a névoa escondia... 
A GRANDE EMBARCAÇÃO QUE ELE TRAZIA DESTEMIDAMENTE PARA JUNTOS DE TODOS!
Pode imaginar isso Anna?
Um pequeno barco, para quem ninguém dava nada, trazendo uma grande embarcação...
Assim somos nós... Eu sei... Pequenos barcos... E como somos pequenas, não?
Mas até os pequenos tem o seu valor...
É que as vezes, ainda não é o momento de partirmos para alto mar...
Potência no motor? Ahh... Isso temos sim!
Dure o tempo que durar... Passe o tempo que passar... Tenhamos medos, anseios, que tivermos de ter... Deus não olha o tamanho da embarcação, porque fez ela e conhece a potência do motor...
Para cada missão, um rebocador, um titanic, barquinho de papel... Que seja... Todos temos nosso lugar...
Todos temos, nossa missão...
Percebe, no entanto, que foi só quando o capitão tomou o leme que o barquinho foi a alto mar?
E nós estamos assim, não?
A disposição do capitão...
A espera, de que Ele no use para aquilo que reservou ele mesmo para nós....
Ai Anna... Pequeno barco? Pequeno sim! Com muito orgulho, faço o favor! (risos)

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...