quinta-feira, 16 de abril de 2015

Desabamento...

Você já viu a tristeza?
Já viu o rosto dessa coisa esquisita que insiste em existir...?
...
Acho que vi, por esses dias... Não sei se a sua face, mas a sua sombra... E fez chuva...
A tristeza que vi nascia de uma amargura de vida inteira, de um ódio de vida, que mantinha na coleira um sonhador e com toda sua destreza mantinha-o a galope, no ritmo de sua dança... Sorrindo maldosa e e calosamente, lá se ia ela, pensando estar luxuosa, mas nitidamente fétida.
Eu a vi, galopante passava...
Tentei estender a mão... E quando vi que não podia salvá-la, optei por salvar meu semelhante... Aquele que também sonhava...
E lá fomos sonhando juntos... Estradas não haviam muitas, então também construíamos as estradas e os meios para chegar a elas.
Foi dando certo... Eu não sonhava só...
Mas e então, esse conto acaba por aqui? E se foram felizes?
Sim! Foram...
E em quanto continuei sendo, a sombra passou... Pegou de volta, o que pensei ter comigo em sonho...
Mas optou por não me tirá-lo totalmente...
Foi dosando... Todo dia uma dose... E cada dose um sonho se ia desabando...
Sustentei tudo...
Amarrei as portas, colei as paredes, segurei as vigas no ombro...
Mas a sombra vinha e a tempestade era tanta...
Fui vendo tudo ruir... Aos poucos, pó e cinza, os sonhos iam se tornando.
Aos poucos, pó e cinza, dois em sua luta diária de não ser, iam sendo envoltos... Iam se acabando... Iam-se desabando...
Peço licença...
Peço perdão...
Não há mais paredes, nem portas e janelas... Foi-se o tempo que pude tirar de mim a força de que todas as coisas encontrariam seu lugar para estar, até mesmo a sombra...
Ah sonhador... Você se devolveu ao estado em que eu o encontrei...
Mas um de nós, segue... E segue, porque entra as cinzas, a misericórdia de Deus, permitiu o pouso de um anjo, pelo qual dou minha vida, dou-me até a sequidão, sem a qual não vivo e pela qual insisto nessa vida moribunda...
Velo-te das sombras, protejo-te... Mas aprenda também a lidar com elas, de forma que jamais se permita doer também seus desabamentos... Se magoar, perdoa... Se te amar, ama! Não julgue, não condene... A cada um, o peso de seus fardos...
Mas não esqueça, jamais torna-te sombra... Aprenda a viver... E vivendo se lhe vier sofrimento, ame-o e devolva a Deus.
É Ele o único capaz de todas as transformações!
Sonhador, lamento... Torço... Nunca deixará de fazer parte das minhas orações...
E quanto ao desabamento... Levanto-me... Doendo... Não consigo se quer dizer o quanto...
Mas levanto-me... E sigo... Caminhos... São tantos agora... Deus sabe, guia e me acompanha...

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...