terça-feira, 26 de maio de 2015

Que bicho é esse?

Era interessante vê-la...
Sempre calçando as mesmas meias amareladas, sentada na cadeira, pensando, repensando, refletindo se do outro lado do mundo alguém como ela também se intrigava em se sentir tão única, em se ver tão só, em ter tanto e ao mesmo tempo nada...
As vezes, ela pensava em viajar para longe... Ir lá do outro lado do mundo e matar essa curiosidade de se saber realmente só... Se era isso...
Tantas coisas se passaram...
Tanta coisa aconteceu...
E tudo que ela conseguia se perguntar era se, se afinal de contas existisse outra de si em algum ponto desse mundo todo, essa alguém, outra de si mesma, teria feito tudo do seu jeito ou do jeito de si mesma.
Então ela parava e pensava de novo, nas semelhanças que teriam... Os gostos musicais, das leituras, os gostos de vida que nos definem quem somos. Teria ela, os mesmos que os seus?
Não tenho coragem de pensar...
A essas alturas pensar tem sido perigoso... Impossível não se comprometer a loucura... Impossível não amá-la, detestá-la e por fim levá-la para casa.
Sua casa... Arrumada ou bagunçada, ainda assim, sua... Um belo espelho de sua psiquê.
Que coisa cansativa, essa de viver...
Que piada desbotada e sem rumo...
A gente vai somando gente a nossa vida e no final, na hora de partir dê-me a mão quem quiser, a verdade é que se vai só...
E como se Deus perguntasse, que foi que fizeste da vida, nem vou pensar... Eu lutei pra chegar logo aqui!
Está sem graça lá... As histórias se repetem... Os homens se copiam... Por falta de temor estão se enforcando uns aos outros.
É cada coisa!
Você nem sabe se sorrir é o melhor... Já se criaram tantos rótulos... É tanto estereótipo... Dividiram as cores em subcores e a estas também... Se você ri muito é bobo... Se se fecha é sistemático... Se ama é louco... Se não ama é mentiroso...
Estamos num vavú só...
E pensa que eu não sei, porque vive aqui encima?
Desce e experimenta!
Senão voltar pior, volta como eu...
É um cansaço... Irritação... A pele treme toda hora... O coração palpita... O mundo gira...
Vai dando um medo de contar você nos mínimos detalhes... Vou-me deixando na gaveta... Aprendendo a ser como todos os outros... Mais esforço...
A música calma, estressa os outros...
O jeito manso de falar e expor a sua inteligência, vira arrogância...
Ninguém vê que você ama... Ninguém entende porque ama... Ninguém busca entender...
É tanto que se fala... Tanto que se maltrata e aos poucos tudo que se pode vestir é a couraça...
Antes, queria voltar a ser criança... Mas quando penso, viver toda essa vida de novo... Toda maldade, dureza, incompreensão... Deixa pra lá...
Vamos seguindo...
Oh Deus, não é que eu seja ingrata... Eu sei que tem estado comigo...
Não deveria me sentir assim, mas sinto... É um cansaço...
Uma estranheza...
Me falta um abraço...
Me falta a clareza...
Que bicho é esse?

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...