quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Nascendo...

De repente você abre os olhos pela manhã e descobre a vida de um jeito como se fosse a primeira vez...
Dizem que o nascimento é muito semelhante ao morrer...
Já ouvi estudiosos dizerem que é até doloroso...
Há uma explosão do ar entrando pela primeira vez em nossos pulmões...
Há ardência nos olhos ao abrir-se pela primeira vez para a luz...
Há o som ensurdecedor da vida toda acontecendo a volta de quem pela primeira vez encara toda a realidade incontornável...
Será que o recém nascido nesse momento, deseja retornar para o lugar seguro de onde veio?
Será que se sente contrariado por ter saído de seu aconchego?
Ou será que olha para esse novo e depois de toda essa turbulência, descobre-se querendo ver e ser mais nesse novo tão imprevisível?
Nossa...
Uma decisão dessas e não se pode parar... Não se deve... Já está sabiamente escrito! Não me pertenço e que bom isso!
Como tudo na vida... Não é possível parar!
A vida, os acontecimentos vão nos empurrando de precipício em precipício... Em uns, caímos em nuvens... Róseas, adocicadas, suaves...
Ai! Como é bom...
Em outras, caímos em espinheiros... Olhamos lá de cima, as belas rosas vermelhas e mergulhamos para elas, desejando-as ardentemente. E ao tocá-las... Um rasgo aqui, uma ferida ali, um perfuro... E mesmo assim, mesmo no meio de tantos espinhos, ainda almejamos alcançar ao menos uma, que seja, rosa vermelha...
... ...
Incrível, o que não sai da minha mente... Essa contradição... 
No meio dos espinheiros, machucando-me, cheia de feridas, o que não sai da minha memória é o cheiro magnífico das rosas... 
E fico perplexa... Descubro que a dor é perfumada... E tem lá sua essência!
Não essa comum, mas uma singular e é ela que vai nos arrastando as decisões... Aquelas coerentes e também as insanas...
Em qual precipício você acha que a vida de fato acontece?
Só nas doces nuvens de algodão tenho o prazer de apenas estar ali... E a vontade é de apenas estar ali... Nada mais...
Quando dos espinheiros, preciso lutar... Preciso querer sair... Preciso traçar metas... Preciso alcança-las e então me arrasto... Salto! Ceifo! Podo! Luto! Deixo... Busco...
Não que devamos nos lançar aos espinheiros, mas ao cair neles, acho que devemos agradecer... Ter amor aos espinhos, chega a ser um ato de caridade para com a alma...
Quando caímos neles, somos tão pequenos... Olhamos para cima e vemos o receptáculo das rosas, sem saber direito quando seremos capazes de ver a trança das pétalas...
A medida que desbravamos, vamos chegando a sua altura...
No meio do caminho, alcançamos a "copa"...
Ao final, podemos pegá-la e algumas até nos temem, pelo tamanho que temos ao passar esse capítulo inteiro de espinheiros... E não é tudo! Tanto tempo, embaixo dos emaranhados de espinhos, aprendemos como segurá-las perfeitamente sem deixar que os salientes espinhos possam maltratar nossos dedos!
E ai, se vai!
Há um cansaço, mas uma sensação de dever cumprido... As feridas vão se curando...
As vezes adormeço e sinto Suas mãos, Seu sopro, Seu colo... Como não saber quem é?
As marcas nas mãos... Ah, que traço inconfundível o Seu... E a delicadeza? Ímpar!
Aos poucos me lava... Escuto o barulho suave do pano sendo torcido na água e voltando-se a mim, para aplacar a febre... Então, me reveste! Me põe de pé... Me abraça... E não sou capaz de conter as lágrimas... Como eu te amo... Como me amas...
E assim que me curas... Solta-me, para que eu possa de novo dar os primeiros passos... Mas mantém atento o olhar sobre mim...
E de novo...
E de repente...
Abro os olhos pela manhã e descubro a vida de um jeito como se fosse a primeira vez...
Eu já disse que o nascimento é muito semelhante ao morrer?
Já ouvi estudiosos dizerem que é até doloroso...
Há uma explosão do ar entrando pela primeira vez em nossos pulmões...
Há ardência nos olhos ao abrir-se pela primeira vez para a luz...
Há o som ensurdecedor da vida toda acontecendo a volta de quem pela primeira vez encara toda a realidade incontornável...
Me pergunto...
Será que o recém nascido nesse momento, deseja retornar para o lugar seguro de onde veio?
Será que se sente contrariado por ter saído de seu aconchego?
Ou será que olha para esse novo e depois de toda essa turbulência, descobre-se querendo ver e ser mais nesse novo tão imprevisível?
Ai Senhor... Que bom, que em cada nascimento, vais comigo...

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...