quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Deixa-me...

Deixa-me chorar...
Preciso esvaziar-me... Tirar de mim, isso que volta e meia dói!
Deixa-me chorar...
Preciso lavar-me do peso, da ruptura, da cisma de sentimentos, outrora bons e que agora confundem e amargam...
Deixa-me dizer que tudo o que foi pode nunca ter sido como pensei...
Deixa-me chorar, para poder encarar melhor o chão que foi de desfazendo aos meus pés...
Deixa-me doer, enquanto ainda for necessário mexer nessa ferida, ainda tão aberta, tão vista...
Deixa-me sentir, porque todas as coisas devem ser sentidas e bem sentidas, para não restar motivos para voltarem a ser sentidas em algum outro momento...
Deixa-me chorar... Eu preciso transbordar em lágrimas, aquilo que vem latejando constantemente...
Deixa-me chorar... Eu preciso transpor as letras, as falas, os diálogos, os autos, os laudos, as preces...
Deixa-me pensar, que amanhã não terei essa dor, esse laço, esse embaraço... Essa coisa iludida que foi e nem sei...
Deixa-me tocar, cada nota, acorde, assobio, riso... Sei lá... Um grito sopranino...
Deixa-me... De alguma forma, deixa-me...
Deixa-me só...
Deixa-me viva...
Deixa-me em coma...
Deixa-me torpe...
Deixa-me dor...
Deixa-me voz...
Deixa-me abraço...
Deixa-me cansaço...
Deixa-me fé...
Deixa-me texto...
Deixa-me melodia...
Deixa-me harmonia...
Deixa-me polifonia...
Deixa-me muda...
Deixa-me lágrimas...
Deixa-me risos...
Deixa-me abraços...
Mas deixa-me... E sem querer deixar-me, deixa-me mais no seu abrigo, no seu colo, no seu descompasso, seu passo, seu momento, seu estouro, sua memória... Alguma história e um pouco de poesia!

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...