segunda-feira, 30 de maio de 2016

O vale da Misericórdia

Descalça nesse caminho de pedras... 
As feridas tornaram-se incontáveis.
Uma a uma, no entanto, elas estavam se fechando... 
Deixando suas marcas... 
Aquelas que jamais seriam esquecidas, mas seriam aliviadas...
A carne viva, por debaixo dos meus pés tão cansados, embora doídos, me davam uma sensação melhor do caminho que trilhava e continuaria a trilhar, até que pudesse finalmente alcançar o seu límpido véu.
Algo me diz, que falta pouco...
Pelo caminho, muita coisa foi ficando para trás... 
Alguns laços, que antes pensei serem essenciais, mas que na verdade descobri que tiveram seu tempo, fizeram sua parte nas estações que viajamos juntos e que agora, precisaram descer no próximo ponto para dar sequência ao seu plano de vida, assim como eu...
É uma despedida dolorosa... 
Mas necessária...
Só lamento, que não tenha sido tão bela quanto o tempo que se dispôs a caminhar comigo.
Sabe?
Gosto de pensar na vida, como um trem, seguindo caminho até a estação final... Passando por várias estações, onde uns embarcam e outros desembarcam para pegarem outro trem, outra vida ou retomarem a própria vida...
A verdade é que vamos de estação em estação... Estações de vidas... Vidas diversas... Estações da Misericórdia...
No fim das contas...
Estou de pé!
Mantenho os braços estendidos, para qualquer um que queira embarcar, precise de uma carona ou algo do tipo, encontrará minhas estações sempre disponíveis...
A vivência no Catolicismo, me ensinou isso... Estar sempre aberto... Tomar as dores dos outros e isso nem sempre é fácil, num mundo onde a empatia está se tornando cada vez mais extinta e o bem que você almeja fazer para muitos pode parecer "vontade de aparecer" ou "interesse".
Mas sobre mim?
Uma vez, ouvi um músico dizer na ocasião da trágica morte de um cantor: "Ele teria sido muito mais feliz, se tivesse vivido com suas composições em uma cabana no meio do mato."
O anonimato sempre me foi mais confortável... Mas quanto mais o busco, mais exposta sou... Mais feridas são abertas... Mais laços são desfeitos...
Eu entreguei tudo a Ele e não me arrependo... Os seus anseios para mim são tão nublados... Um contraste! Dicotomia pura!
Dá minha cara a tapa e pede que eu me esconda n'Ele e quanto mais me escondo, mais vista sou...
Bom dia Senhor!
Nosso diálogo é sempre assim, né? 
Sou muito petulante... 
Porque a humildade não cria raízes em mim?
Chega um tempo na vida, que você simplesmente para de correr... A maturidade vai pesando e você desacelera o passo e aí começa a entender e alcançar o tempo que é de espera...
Você finalmente chega naquela estação, em que o momento é para deixar que Deus o alcance, o toque, o modifique, te revigore...
O motor da locomotiva será o mesmo, mas receberá um "up"... Óleo novo, combustível melhorado... Afinal de contas, ainda há muito a frente... E eu quero seguir!
Eu não pretendo parar... Só desacelerei para sentir o seu toque... A sua misericórdia!
Quando parei... A estação era diferente... Os sabores de Deus são únicos e mesmo quando você percebe semelhanças, há uma nota, uma única nota que faz você sentir como se O provasse pela primeira vez...
O Vale da Misericórdia tem tantos contrastes, quanto os que há no meu diálogo com Deus! E a sua beleza reside aí! Nessas diferenças que se atraem...
A minha pequenez, o meu nada diante da grandeza e o tudo de Deus!
Tantas lágrimas! As minhas... E as de Deus... Sim! Deus chora... Chora a minha dor, chora a minha alegria! A personificação da empatia!
E cada gota de lágrima que molha minha dura terra é a que a amolece e faz germinar os frutos que me expõem e me escondem n'Ele.
Bem... Tem tanta coisa... Mas hoje o que minha atual estação permite dizer é isso... Obrigada Senhor!
O vale mais lindo que já alcancei é o da Tua Misericórdia...

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...