sábado, 16 de setembro de 2017

Palavras...

É incrível o poder delas...
Saem da nossa boca quase sempre sem serem pensadas ou planejadas, no dia a dia, acompanhada de risadas ou significados escondidos entre uma vírgula e outra.
E às vezes conseguem fazer um estrago enorme! Um rasgo irreparável...
Palavra dita, não volta!
Eu nunca pensei passar por isso, ainda mais com vocês, tão polidos e crescidos num meio que provavelmente deveria ter lhes ensinado a serem melhores do que atualmente vejo vocês serem.
Doutores e juízes... Decidindo quem pode e quem não... Quem deve e quem não... Quem passa pela porta estreita e quem fica entalado nela...
Vocês, que comeram comigo...
Vocês, que repousaram sob as paredes da minha casa...
Vocês, que comigo entoaram maravilhosas melodias e que agora me fazem sentir como se nunca tivesse estado dentro da harmonia que tecemos.
Como pode isso?
Mesmo distantes vocês ainda conseguem entrar e fazer aquela devastação...
Mas dizer o que?
A responsabilidade é minha! Única e exclusivamente minha, porque fui eu, quem abriu a porta uma vez para que vocês entrassem, me conhecesse, tivessem uma parte de mim, que eu escolho a dedo a quem dar e agora, sem trancas, eu me vejo ser invadida por esses conhecidos intrusos, que não medem suas palavras, não tem se quer a humanidade de simplesmente deixar que eu cuide de mim, porque até dentro do meu lar, do meu espaço interior, vocês tem encontrado uma brecha para suas audiências, para me fazer ser ré de um julgamento que não deveria me pertencer...
Olha a covardia...
Adocicada covardia!
Sim! Bem doce mesmo... Porque vem com palavras polidas, gestos parnasianos e uma postura francesa impecável, alinhada...
E lá vou eu novamente, porque meus olhos enxergam além da íris! Óh maldição!!
Dorian, Dorian... Quantos não?
Vejo por debaixo dos panos, a carne fétida, apodrecida, que se desfaz a cada golpe de palavra maldita que vocês entoam...
E tenho pena... Mas é tanta, que me rasga mais do que as palavras que usaram para me martelar...
Porque?
Porque quando crio um laço, ele não se desfaz tão facilmente... Mesmo com tanto golpes, fica sempre uma linha fina, que me liga à vocês e me dá esperança de que a moldura, a arte putrefata escondida embaixo dos ternos alinhados, seja apenas um cisco, um mal entendido de uma visão envelhecida pelo tempo, pelo uso, pelas experiências que nos dão tanto, mas também tiram...
Sim... Tiram... A gente passa a não confiar tanto, no que vê, mas apenas no que toca! E outra vez, "Eu, Tomé!"
E vai-se lá, no meio do circo! Atração principal!
Como pode tanto conhecimento e nenhuma "rezalução"... Como?
Eu já não sei...
E de uns tempos pra cá, dói só o primeiro golpe! No segundo, a pele dormente sente ser golpeada, mas está tão entregue, que passa... Já se acostumou... E no fim, só sabe que... já passou...
Mas... Quando foi que isso aconteceu?
Quando foi que eu permiti que acontecesse?
E o mais importante: Porque continuo a permitir?
Vai pra longe! Por favor!
Já chega!
Não foi pra lá que eu caminhei... Não era esse o fim da minha busca eterna!
Não é pra lá!
Não combina!
Por baixo do meu terno, a carne mesmo marcada ainda é macia...
Por baixo da carne então, minha alma ainda vibra!
Tudo bem... Eu sei que a luz está fraca e a respiração quase inaudível, mas ainda existo!
Eu insisto!
Vejam, ainda estou aqui! Podem comprovar! Toquem... Sintam... Ouçam...
É sonhadora e bela!
E talvez um dia, como um dia contaram, alguém tiver a coragem de desbravar os caminhos que levam até ela, possa enfim despertar-lhe deste sono profundo, deste inferno entre tantos que a levaram ao coma e em muitas vezes simplesmente gostar de estar lá, só para evitar mais marcas, mais golpes...
Era uma vez!
Eram tantas...
Eram tantos...
Mas não ficou ninguém... Não se mantém um semblante por tanto...

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...