quarta-feira, 19 de maio de 2010

A dor é o que nos mantém vivos...

É.
Não lhe devo satisfações, mas quem disse que você liga para isso?
Somos muito iguais não?
Sim, somos.
Passei por uma experiência incrível ontem...
Minha vó sempre dizia, que quando criança ela tinha muito medo de brincar em frente ao espelho a noite. Ela acreditava que dentro do espelho morava algum demônio e que se ela brincasse a noite frente ao espelho ele viria quando ele estivesse dormindo para lhe fazer algum mal.
Confesso, que alguns anos atrás eu ficava horas e horas tentando imaginar essa situação, em que um demônio saltaria do espelho para me pegar a noite simplesmente por ter me divertido com a imagem refletida no espelho. Depois me esqueci e nunca mais toquei voltei a essa memória.
Não até ontem...
Ontem foi importante.
...

Encontrava-me só em casa. Ainda não era noite, mas parecia noite.
Entrei em meu quarto e me vi frente ao espelho escancarado em meu guarda-roupas. Observei bem a imagem. Umas duas ou três vezes, fui a ela e voltei, observando cada curva, nuances e imperfeições do rosto estranho.
Era eu? Sou eu? Pensava. Mas estava tão diferente. As mesmas curvas, mas havia algo por trás da máscara que não era compatível.
A vinte anos que me vejo. A vinte... Eu não era assim. O que poderia ter acontecido? Será que durante anos eu não seria capaz de me reconhecer?
Veja bem! Não sou eu, mas sou seu!
Perceba!! Encare!! E seja honesta!! Quem é a personagem frente ao espelho? Numa busca desesperada. Pensei e repensei a teoria da minha avó e veja a brilhante conclusão: Talvez o demônio que por anos havia me representado, tenha entrado de férias, saído, deposto... Sei lá... E aí, algum outro tomou seu lugar. Algum outro menos profissional, iniciante na carreira de ser outro... Por isso não tenha me refletido tão bem.
...
Besteira...
Não há o que dizer bem sobre isso senão, que realmente havia algo diferente naquela imagem, algo que na minha imensa pobreza eu não consiga desvendar. 
A imagem do espelho era fria, intensa, distante... Não podia ser eu!!
Não queria que fosse!!
Eu não posso ser assim. Não, depois de tanto trabalho para ser o que sou, dentro do que se espera...
Mais uma besteira...
Mais uma pergunta...
Se sou o que sou dentro do que espero, como dizer que o meu reflexo é menos ou mais real do que minha própria imagem que no fim desconheço.
Não me responda.
Não me fale.
Há tanto tempo, não me sentia nesse turbilhão. Volto agora sem piedade, para tentar desvendar mistérios que ficariam melhor se nunca fossem experimentados em sua nudez.
Sejamos sensatos: O mundo não está preparado para o que eu ou você queremos apresentar a fundo. Teste isso.
Vá ao centro, e grite! Anuncie a possibilidade de escancarar uma verdade. Não haverá homem em estado de consciência normal, que permaneça de pé neste local.
A verdade dói e a dor nos mantém vivos.
Enquanto a verdade nos oferecer perigo, nos manteremos longe dela. Inertes. Fingindo que ela é impossível...

2 comentários:

Valsa

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