quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Essa escrita que dói...

Nesses momentos que a chuva cai sobre nós, eu fico pensando e repensando todas as coisas... Todos os fatos...
Era de se pensar que chorasse junto com a chuva... Mas não. A minha dor se recolhe e se aperta e se aconchêga dentro de mim, como se eu fosse seu cobertor.
Aí fico assim... E penso e repenso todas as coisas...
Penso no piano, mas não quero falar dele...
Penso na palavra, mas não quero dissecar seus domínios...
Penso no gesto, mas todo gesto agora se recolhe no meu peito e se aconchêga também...
Me debruço sobre o papel para escrever algo... Corro o lápis de um lado para o outro e não escrevo... Surpreendentemente também em mim se aconchegaram as palavras e toda a escrita.
Ai! Como eu queria hoje a dor de ser poeta...
A palavra habitável, emudeceu-se... O silêncio possuía o homem!
Aquele instante, fora um instante de uma vida inteira... E todas as marcas... E todas as lembranças... E todas... E todas... Que não caberiam aqui...
Hoje, dou-me o direito de doer com toda a minha mortalidade...
Não quero ser forte! E dou-me o direito de não ser...
E dou-me o direito de estar nua diante da minha dor!
Se Sartre me visse hoje, talvez soubesse melhor descrever o seu muro...
O meu limite, o que não posso ser e não posso ver depois desse aquém e além de mim...
Não cabe mais!
E toda a compreensão nesse momento é vaga e talvez clichê... Mas um clichê tão honesto com a sua "clicherisse", que me faz concordar...
Vai... Chore... Sinta o que tiver de sentir... É a sua hora de doer e não posso impedí-la disso, mais...
Vai... Dói... Sinta a perda... E reconheça... E se reconheça nela... Pois só sente de verdade o que se perde, quando se perde o que realmente ama... 
O que nos amou primeiro... O que foi de verdade... 
O que valeu a pena em todos os sentidos... Os sentidos mais extremos, íntimos, públicos, maiores, menores, de cima para baixo, de baixo para cima, da direita para a esquerda e da esquerda para a direita...
Vai... Sinta... Toque o amor acima de qualquer limite... Em todos os ângulos... Tamanhos... Cores... Texturas... As variações mais transloucadas que vierem agora...
Sabe?... E porque o foi? O que era?
Ainda será... Dentro de você, no lugar mais perfeito... A coisa única sua, que só vocês partilharam...


Para Jeanny e vovó Maria Rosa...

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...