segunda-feira, 11 de junho de 2012

Passageira...

Esses pedaços de mim que você vai colando com o seu amor...
São esses pedaços que ninguém vê, mas você os entende e os chama de também importantes..
Alí eu estava, cacos e mais cacos misturados.
Não a vejo chegar... Mas quando está é impossível não percebê-la...

Sorrateira... Ela vem...
Minha passageira negra, fazendo do meu luto sua espada. Toma para si minhas mãos para empunhá-la.
- Sinto muito.
- Não sinta... Porque sua escuridão se foi... Eu a levarei comigo... Vou guardá-la junto a minha.
E vai... Sentido algum agora me pertence... São teus os cinco sentidos e de quebra o teu instinto... Meu e teu ser primitivo.
O que fica quando ela vem, são esses retalhos... Meus retalhos...
Se me importo que venha?
As vezes não... Sendo mais forte, enfrenta melhor o que o mundo oferece.
Esse chão frio que és... Gélido e seco que floreio quando passo... 
Nos reconhecemos naquilo que somos e apenas nós sabemos... Mas não espere mais de mim a mesma benevolência...
Quando me lançaram nesse mundo para testar minha resistência, achei que iria muito longe sendo dócil apenas...
Eu fui! Fui aos extremos... E todos eles você esteve me aguardando sempre... Ora me vendo guerreira, ora sendo apenas princesa...
Eu fui longe... Mas a ampulheta ameaçava e tive de parar e escolher: Princesa ou guerreira?
A primeira opção, era bela, delicada e sutil, poderia tê-la abraçado e ficado na torre mais alta, esperando-te alí... Mas saber que estaria lá fora correndo o risco de não saber se viria ou não, fez-me querer demais a segunda... Fui guerreira então!
E lutei em campos sangrentos... Ceifando... Enterrando alguns... Despedindo-me de outros... Jogando bem o jogo para me dar o direito de estar a dois!
Só nós!
Apenas nós!
Ninguém mais!
Essa jornada parece ameaçar se repetir...
E não ouso mais dizer "Está tudo bem"...
Decidi aguardar e continuar na estrada...
O desejo ardente permanece e embora não tenha escolhido ser princesa... Algo dela adormecido está em mim, esperando o momento em que será trazida a vida por ti...
Eu, princesa ainda serei guerreira... Mas não lutarei mais só!
Nesse dia... Creio eu, que cada parte de mim fará finalmente sentido!
Creio eu, que cada parte de você fará sentido também... Ou pensa que não sei, como se sente?
Dos seus medos... Eu os conheço... Também vivo eles... A questão é que de certa forma aprendi a conviver com eles e não deixar que se tornem maiores...
Decidi não ser escrava de ninguém...
Decidi não ser escrava de mim mesma...
Armaduras a parte, meu bem... Estou aqui para quando você vir...
Sem pressa, trilhe os seus caminhos... Faça suas escolhas... Olhe pra mim quando puder, me ame e se permita ser amado...
Mas não me deixe às ervas daninhas... Não me coloque a prova...
Não me prove no fogo!
Não me dobre no aço!
Eu sou gente como os outros, que sente mais um pouco...
E se somos para ser um do outro... Isso não é mais necessário... Não mais...
E porque falei sobre a passageira?
....
Ahh, amor (suspiro), entenda... Senão a desejas... Também não a perturbe!
Sana ela não é! Ama! Mas está acima de tudo sua liberdade, autenticidade...
Não a prenda! Não menospreze sua inteligência!
Deixe que sinta... Deixe que venha...
Quando vier a ame... Quando tiver de partir... Deixe...
Seja verdadeiro... Pois é isso que a encanta!
Quando ela se for, junte-me os pedaços... Costure os retalhos... Cole os cacos...
Me abrace forte e me faça ficar segura de mim de novo...

domingo, 3 de junho de 2012

Paralelo...

Esses sonhos que acontecem...
Esses sonhos...
Eu não sei bem...
Cansada, deitei-me e mergulhei num leque de cores e texturas bem conhecido por mim...
O meu paralelo estava lá novamente... Aguardando-me há muito tempo...
Envelhecido pelos dias que eu o abandonara... Ainda sim estava lá... Dessa vez correndo perigo.
Eu menino... Eu... Meu eu lírico e cinco crianças na mesma idade, mas sábias em idade avançada...
O meu castelo seguro desmoranava debaixo do céu tempestuoso, mal visto pelo sol preso entre as nuvens densas.
Fui avisado do perigo...
Troca rápido de vestes... Trate de parecer como os outros meninos... Esconde o teu brasão no peito e não mostra-o a ninguém...
E de repente esse velho entre nós... Nos conduzia todos, as pressas por entre as paredes úmidas de um corredor que dava pra fora do meu lugar seguro no meu mundo.
Íamos abaixados por entre arbustos e o capim alto... Correndo... Coração acelerado... Não sabia o que era... Mas sabia que tinha que ir pra longe, mesmo querendo voltar pra lá...
Os cavalos guiados por gente sem rosto íam bem perto de nós... Buscando-nos para eles. Que motivos teriam? Eu não sei...
O dia não anoitecia, mas parecia um fim de tarde com sol laranja indo embora e o céu cor cinza querendo apontar estrelas, com uma lua do outro lado, quase dizendo que também estava alí.
Não olhe pra trás... Não toque em nada! Não coma nada! Cuidado onde pisas! Cuidado com o que vai escolher! Cuidado com o que pegares!
E o velho ía me instruindo sempre ao meu lado. Zeloso... Porém, rude com as outras crianças... Foi quando chegamos em um casebre que descobri para que elas...
Nos escondíamos em um quarto abandonado, sujo... No centro um berço antigo, ruindo... Brinquedos por todos os lados...
As bonecas de porcelana empoeiradas e os palhaços de corda faltando pedaços.
Entrem embaixo do berço! - Ordenou o velho. E corremos para debaixo do imenso berço, menos uma das crianças.
Essa teimosa quis entrar no berço para ser ninada, atiçando o velho para desgraçá-la!
Estúpida criança! - Vi os brinquedos descerem da prateleira... Escalarem o grande berço e sufocarem a criança, enquanto eu, o velho e as outras crianças tremíamos de medo embaixo do berço ouvindo os gritos da criança, sendo sufocados pela doçura dos brinquedos de corda e porcelana.
Quando os gritos cessaram, o velho nos mandou ficar de pé e continuarmos... As crianças se olhavam chorosas... Eu soube então, que elas sabiam para que estavam alí... Para serem sacrificadas no meu lugar!
Calma... Não precisa temer... Você ficará bem... Esquece elas... Porque elas escolheram assim... - Não sei o que o velho me fez, mas concordei em ficar bem...
O lugar embaixo do berço era um terreno escuro e molhado. Andamos até encontrarmos uma trilha de doces bem embalados.
Não comam! - Disse o velho, mas uma menina de laço rosa na cabeça já mordia um bombom de recheio verde. - Idiota! Criança lerda! - E a menina começou a chorar. O velho segurava as outras crianças para não deixá-las ajudar... E eu via tudo... Me pareceu estar encolhendo primeiro... Mas depois percebi que a terra a engolia...
A menina chorava... Então o velho a segurou pelos punhos...
Queres partir de uma vez? - A menina balançou a cabeça que sim...
O velho a deitou sobre a boca da terra que a engolia e assistimos juntos ela desaparecer rapidamente: Tronco, face, braços, mãos, dedos, unha, menina....
Vamos! Eles nos seguem!
E ouvi bem perto, o relinchar dos cavalos... Os cavaleiros sem rosto nos seguiam incansáveis.
Adentramos a floresta e chegamos em um lugar de espelhos... Em todos os tamanhos e formatos.
Não olhem! - Disse o velho, mas um menino se encarava e se enfeitava com paletós novos em frente a um espelho. - Burro! Olha o que faz a tua vaidade! - E de repente o menino gritava... Corri para vê-lo... Suas vestes o esmagavam... Olhou para mim, querendo ser ajudado.
Tentei ir na sua direção, mas o velho me segurava. Abraçou-me contra o peito.
Ele mereceu! Calma criança...
Olhei de volta... Sangue no nariz, olhos pra fora! O menino roxo caído no chão...
Saíamos daqui... Ainda nos seguem...
Partimos então... Eu, o velho e duas crianças.
Andamos e andamos...
De repente chegamos... A terra seca, árida... Lugar triste... Mas vivo...
Não toquem em nada! - Disse o velho, mas uma criança brincava com as flores. - Bronco! Olha o que faz a tua curiosidade! - Então veio um cacto e abraçou o menino perfurando-o com os seus espinhos. Pobre menino!
Rapidamente já não vivia... Ficou alí no cacto!
Temos que ir! Anda!
Saímos então e caminhamos... Até chegarmos em um grande muro...
Os cavaleiros sem rosto levantavam poeira atrás de nós e então o velho disse: - Aqui estamos... Se queres ser salvo, escolhe o fitilho que lhe parecer melhor e escala o muro com ele. Senão... Fica e padece! Anda depressa... Eles vem! - A última criança me olhava sem entender... Escolhi um fitilho amarelo e ela me aguardava.
Peguei-o firme e disse ao velho: - Esse!
A criança que restara empurrou-me e tomou para si o meu fitilho, escalando rapidamente até quase chegar no topo, enquanto embaixo eu tentava me levantar de novo e o velho ao meu lado ria.
Abriu-se na terra um grande buraco e a criança que se achava esperta viu o fitilho amarelo desfiar-se e romper, fazendo-a cair no buraco.
Toma esse! - Disse o velho. E deu-me um fitilho trançado de todas as cores. Deu-me impulso para que eu subisse depressa.
Encima do muro vi os cavaleiros chegarem, mas não mais o velho. Ele me aguardava do outro lado...
Em uma terra desconhecida, diferente da que eu havia visto até então...
E disse: - Vamos? Eles nos querem ainda...
 
 
 

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...