quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Overdose...

Estava deitada em uma poça de sentimentos confusos... Inebriada pelos extremos... Cansada, golpeada, ferida... E sorria, um sorriso de vidro... Não se poderia soprar perto dela, sem danificar a tela...
De uma vez por todas descobrira a verdade... 
Chorou todas as possibilidades... Pediu a Deus que a levasse no tempo...
Tocou o dia, mas preferiu a noite... 
Enterrou um sonho, para dar espaço à outro...
Estava vazia...
Acordada por uma lembrança, sentou-se na cama e embebeu-se, extasiou-se...
Podaram-lhe as asas... 
Ela requereu as penas, guardou-as no mais profundo... 
Voltou-se para a janela, viu de longe um fiasco, lembrou-se dos cheiros, caiu no tormento, despejou e secou as lágrimas...
Juntou os retalhos, amarrou os sapatos, pegou um livro, escreveu a carta...
Transferiu a lógica, riu do desastre, chorou o belo, pediu abrigo, caiu no alento...
Descobriu a porta, segurou a hora, despiu-se...
Caminhou distante, escandalizou todos os instantes, preferiu seguir...
Molhou os pés, aceitou o convite, trançou-lhe os braços, encaixou-se num abraço...
Aconchegou-se, sentiu-se quente, tomou-lhe um frio, serviu-se do medo...
Deparou-se com o trágico, violentaram-na a mente, o corpo, a alma...
Reconheceu o algoz, lembrou-se de todas as eras, repetiu a história que pensava escrever nova...
Ficara sem corpo, sem voz, sob pena...
Quis a forca... 
Sentou-se no parapente... Preparou-se... Esticou o passo, mas ouviu um choro gritando-lhe a permanência...
Acovardou-se por amor a uma vida, não a sua... Essa já se desfazia... Poeira no vento... Coisa fútil, não tinha mais nome...
Pendeu o corpo para dentro... Amargou a escolha...
Pesou-lhe a mão que a amava... Pisaram-lhe as metas... Confundiram-na...
Se o amor era sua oferta, aquilo não tinha sentido...
Lembrou-se das penas, clamou-as num instante...
Do profundo elas vieram, montaram-se sobre si, cresceram na moribunda...
Ergueram-na longe, viu-se do alto... Agarrou-lhe a mão, trocou seus farrapos, vestiu-a princesa...
Acordou barroca, a pele macia, a alma calejada...
A vi inteira, olhar despedaçado, queria a vida, mas não a reconhecia...
Sentou-se torpe... Deram-lhe as botas... Amarrou-as...
Abriu a porta, sentiu a brisa, testou o tempo...
Abriu as asas, tentou saltar... Não viu quem a via... Não quis...
Descobriu no curto tempo, que teria de novo que aprender a voar...
Não se importou...
Pegou a mochila, postou a carta... Doses e mais doses...
E saiu...
A história fica!
Um dia, ela volta e termina...

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...