segunda-feira, 11 de abril de 2016

Sobre rótulos, a dor, ausência, cinzas... (Sessão desabafos)

Tanta coisa acontecendo... Tanto tempo vem passando... Vem batendo a porta algumas sensações que não fui criada para ter...
Quando você nasce em um lar como o meu, a primeira lei é o amor... E você passa a crer que em todos os lares será assim também, até se deparar com um, onde a ideia que se tem de amor é um aprisionamento de si mesmo a um outro que o retêm por sentimento de posse, de coisa objetificada... Pronto! Nasce a dúvida... E por um instante, eu não compreendia mais o que era essa coisa de "amor".
Confusa... Que medo foi... Que quantidade gigante de medos foi... Mas dentre tantos posso destacar um que me assombrava sempre: "Não saber mais o que era amor...Acostumar-me ao desespero, a falta de esperança, a turbulência, àquele afeto que feria...".
Me disseram uns dias atrás, coisa que nunca havia sido dita sobre mim, me rotularam depressiva!
Quando ouvi isso, senti-me incoerente... Como se tivesse segurado um fio de alta tensão sem proteção... Me feriu... Mas também me libertou, porque parece que o choque tocou um lado a muito tempo adormecido e me fez recordar quem eu era antes desse terremoto todo na minha vida. Eu sempre fui reflexiva sim, mas nunca me faltou fé, amor, compaixão, alegria! Meu grupo de amigos, me chamava de boba e não estavam falando da minha inteligência, mas porque conseguia fazer piada com tudo, fazer rir nos momentos menos propícios... Levar uns e outros a quererem me matar por colocá-los para rir em situações em que toda seriedade era exigida...
Eu olhei pra mim, pra dentro mesmo, lá no fundo e quando ouvi essa palavra fui chamada a sair de mim mesma e ver de fora... Tanta coisa fez sentido... Eu entendi porque tanta gente vinha me rodeando, me cercando com seus abraços apertados, com seu carinho, seus cuidados... Seria muita prepotência, Anna, dizer que reconheceram em mim, o amor e a alegria que eu transmitia? De repente, estou sendo resgatada e devolvida a mim mesma tal como antes, por esses nobres amigos?
Feito isso, aos poucos, fui sentindo que aquele rótulo não me pertencia! Nunca foi meu... Eu estava desajustada ali... Depressiva? Nunca fui... Eu estive, por não ter recebido o devido valor do amor que doei... A quem culpar? Como exigir que o amor seja visto e reconhecido, quando o outro lado jamais conheceu verdadeiramente o amor? É de despertar inveja né? E talvez por isso, essa repulsa por mim... Esse medo, de que eu não fosse real e o que eu sentia também não...
Sabe Anna? Aos poucos as coisas vão tomando rumo...
O que me levou a escrever esse texto? Ontem assisti ao filme "Frida", daquela artista mexicana! Um filme muito interessante... Uma coisa me chamou a atenção e dormi com algo que ela disse ecoando na minha mente... Em determinada cena do filme ela dizia ao seu cônjuge: "Já estou acostumada a dor..." Lembrei-me de quantas vezes disse isso a mim mesma, para poder suportar a dor do outro e assim tentar salvar o que estava falido!
Sabe aquela história de guardar a sua dor no bolso pra cuidar da dor do outro? Eu fiz isso... Busquei salvá-lo! Sonhei com dias melhores pra nós! Cada vez que eu voltava pra casa, voltava pra mim, pensava: "Daqui algum tempo, vamos nos sentar juntos e olhar para trás e rir de tudo isso, enaltecendo como conseguimos ser fortes e vencer a tudo isso, quem sabe testemunhando para outras pessoas, para que essas pudessem também vencer-se, vencer seus obstáculos! No meu coração, reinava a esperança... E eu acreditei tanto! Acreditei por dois, por três, por quatro... Eu quis um final feliz... E durante muito tempo, acreditei que não o tive, até esse momento... Que sendo tão cuidada, redescobri que a felicidade em mim, nunca dependeu de um ou outro externo, mas de mim mesma e por isso, apenas por isso, não me cabe esse rótulo."
Anna, refletir isso, me devolveu tanto... E posso dizer, lamento Frida... Lamento que você já tenha se acostumado a dor, mas não é assim que quero viver mais... Não menosprezo a dor... Não zombo dela, a respeito... Sabe porque? Outra personagem feminina muito importante, me ensinou anos atrás, num belo 1º de janeiro, antes, muito antes de toda essa turbulência, que devemos amar o sofrimento, mas não nos afogarmos nele e nos enterrarmos nele... Obrigada Santa Rita de Cássia! Você amou o sofrimento de tal forma, a conseguir desprender-se de si mesma, a elevar-se de si mesma, por todo o amor que há... Para o único amor que há!
Anna, eu corri dessa nossa sessão de desabafos por tanto tempo, né?
Não voltei para redimir-me, porque não há do que se redimir... Houve um tempo... Um tempo de descoberta... Sentei-me aqui inúmeras vezes para escrever algo, mas não o fiz... Não por falta de pensamentos, mas por excesso deles... Hoje estou livre... É que a casa estava meio bagunçada... Precisei devolver objetos que não me pertenciam mas que estavam enraizando-se na minha estrutura... Invasivo demais!
Voltei para esta sessão para dizer que estou bem... Estou ficando bem! E cada pessoa, perto ou longe tem-me sido fundamental!
Gosto muito da fantasia para ilustrar as coisas e nesse exato momento me vem a Fênix... Esse animal mitológico que ressurge das cinzas... Puxa... E quanto tempo, ela não esteve ausente?

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