domingo, 23 de agosto de 2009

"Se te olho, vejo além das tuas pupilas. Se me olhas, talvez pare antes delas, para não cair no erro de saber quem és..."

Quem sabe agora, que começo a perceber que estou sendo escravizada, não tomo a atitude de te descobrir?

É muito arriscado. Terei de me desfazer em pedaços, analisar meus passos, ficar cara a cara com as minhas misérias e elas não são poucas... Sinto-me impotente diante de você, meu eu... Porque faz isso comigo? Será que me odeia? Porque então diz que me ama? Que amor é esse, que me leva aos céus e que me deixa as traças?

Outro dia, eu andava no jardim de casa. Você sabe que gosto de flores... Você, no entanto, tomou minhas mãos e em minhas mãos desfez as doces pétalas da rosa rósea que eu antes, amava. Senti-me como ela. Uma linda rosa rósea despedaçada e dentro de mim você ria tão escandalosamente que fui obrigada a me refugiar no quarto. A ficar só. A ler-me incessantemente, traduzindo-me aos poucos. Sobrevivendo as suas loucuras. Doces loucuras. Sedutora. Infeliz. Pobre e rica... Loucura.

Estou tão cansada dos seus jogos. Estou farta. Você não me deixa dormir. Até meus sonhos tem tomado. De dia, esvazia-me. Começo a achar que você tem prazer em me ver assim. Sem sentido.

Noite passada, tive um sonho horrível. Você pensa que não sei que é você que faz isso? Está usando minhas máscaras. Meus medos.

Sonhei que estava morando na casa do meu avô, com meu primo e minha irmã. Era uma casa bem rústica, branca. (Lembro-me dos detalhes... Eu senti os detalhes...) O interessante era que apesar de sentir inexplicavelmente que eram pessoas conhecidas, aqueles rostos não eram familiares. Meu avô não se parece nem um pouco com o senhor que eu chamava de avô no meu sonho. Mas enfim, eram eles.

No sonho, eu tinha que ir com minha irmã a algum lugar. Pegamos o ônibus e quando chegamos ao terminal, minha irmã me obrigou a me esconder debaixo de uma mesa e sumiu. Fiquei apavorada, pois não entendia porque ela havia sumido. Então vi de longe, o porquê. Era um homem alto, usava um, sobretudo preto com capuz. Não conseguia ver o rosto dele, vi apenas as mãos... Ele tinha unhas negras e segurava um vestido rosa que tenho. Cheirava-o e depois vinha na minha direção. Quando sua mão me alcançava, alguém me puxou. Era um jovem. Não vi seu rosto, mas senti que podia confiar nele. Nós corremos e deixamos o monstro para trás.

De repente estávamos no ônibus e eu estava apavorada com tudo, eu dizia: “Fomos idiotas!! Ele está nos esperando no próximo ponto!! Vai me pegar!!”, mas serenamente o jovem me disse, “Ele nos espera no próximo, mas você descerá depois”. Foi a última coisa que ouvi dele, porque num instante eu chegava de novo a casa do meu avô e sem minha irmã.

Entrei na casa e me deparei com meu primo dentro de uma jaula, encarando-me com ódio. Meu avô chorava num canto, levantou-se ao me ver se aproximou dele e vendou-lhe os olhos e me disse: “Ele está te vendo através dos olhos dele, se o ouvir chamar, controle-se, não vá.”

Anoiteceu de uma hora pra outra e me vi dormindo. Usava uma camisola branca. De repente ouvi alguém me chamar... Sabia que era ele... Eu não queria ir, mas não tinha domínio sobre o meu corpo. Levantei-me e fui arrastada pela voz. Passei por trilhas escuras, num lugar frio e chuvoso, entre árvores e sussurros de noite. Parei numa escadinha de pedra que dava para uma porta de madeira meio aberta, “ele me esperava”, eu sabia...

Entrei e me encontrei em um salão enorme... Tinha uma escada larga, subi e quando estava lá encima percebi que era a mesma sala de antes, “eu havia entrado num espelho”. Quando olhei pra mim, me vi vestida com um vestido rodado vermelho sangue, estava como uma verdadeira dama, mas chorava muito...

Há muitos dias, eu não venho aqui... Eu sei que deveria continuar escrevendo sobre este meu sonho, mas meu coração doeu tanto agora... Que eu não tive forças pra dizer mais nada. Eu quero gritar apenas...

Eu sei que nunca chegarei a uma brilhante conclusão sobre mim, porque sinto que quanto mais me aproximo de mim, mais incompreensível me torno para mim... Mais distante estou de uma conclusão, de uma definição...

Por isso, caros leitores, “se é que isso pode ser lido”, dêem-me licença, preciso gritar algumas palavras...

Primeiramente, façamos alguns segundos de silêncio... Não me perguntem nada. Escutem o silêncio e talvez você entenda... Silêncio...

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