terça-feira, 22 de setembro de 2009

“(...) Engraçado o tempo que de tempos em tempos me consome. E restaura-me, porque não lhe resta nada, a não ser isso...”


Olhe pra mim... Por favor olhe... Eu permito que você olhe bem dentro de mim. Se disser que vai entender. Porque não se escolhe ser assim. Não se quer ser assim. Mas é assim. Sente-se assim sempre e enquanto negarmos isso. Será assim.

Tenho vergonha de dizer quem sou. É tão mais fácil ser comum. Ser como os outros e fingir que está tudo bem. Acabo me entregando a poesia. As palavras que outrora chamei de malditas. Aos versos que me intitularam, parágrafos atrás.

Será que você será capaz de entender, sem preconceito a minha dor? Os meus pensamentos? Me justifico dizendo apenas que sei amar... Que sei sorrir... Sei ser feliz, mas as vezes parece tão difícil. Já que você me ama, será que poderia entender?

Preciso terminar de te contar meu sonho... Parei num suspiro...

Pois bem, ele se aproximava cada vez mais e eu podia sentir o frio da pele dele tentando me tocar...

Fechei meus olhos, para tentar fugir dele nos meus sonhos. Eu chorava, minhas lágrimas caiam no chão, lentas, sem vida foi quando a visão do quarto escuro, o caixão, as velas, a espada e o rapaz voltaram, Chorei e minhas lágrimas pareciam cair sobre o rosto dele, quando não me restava esperança alguma mais.
O vi levantar-se, descer as escadas, o meu coração se aqueceu e quem me abraçava antes sentiu o fervor do meu coração queimá-lo, afastou-se antes mesmo de tocar-me. Olhou-me e nos seus olhos vi que ele se perguntava, porque eu não queria. Cheguei a conclusão momentânea de que até os monstros amam. Senti pena, mas isso não abateu o meu medo.

“AFASTA-TE DELA!!!” Alguém gritou. Eu ainda olhava-o. Nos olhávamos. Eu tinha medo, mas tinha pena. Ele me soltou. Afastou-se lentamente, olhando-me e questionando-me. Os monstros amam, sem saber como, amam.

Quando já estava longe de mim, o ouvi dizer: “VAI EMBORA, ELA MINHA. SEMPRE FOI!!” Avançou sobre o rapaz. Ia atacá-lo, quando na sombra entre duas pilastras, um casal de velinhos, surgiu. A voz rouca da senhora, chamou-lhe a atenção: “PARE!! DEIXA TUDO COMO ESTÁ. TUDO A SEU TEMPO. NÃO TEM DE SER AGORA. MESMO QUE ELA ESTEJA PREPARADA.”

Estranho pra você? Mais ainda pra mim, que conhecia aqueles rostos, da minha hora de dormir. Desde pequena sempre que me deitava na cama. Esse casal de velinhos vinha. A senhora era sempre mais astuta e o velinho rabugento. Ela sempre tentava me acordar, mas ele nunca deixava, dizia sempre: “AINDA NÃO ESTÁ NA HORA”. Então me dava um beijo na testa, digo isso porque sentia os lábios gelados, mas não os via direito, porque tinha medo. Depois se afastavam, até sumir.

Eles vestiam sempre a mesma roupa. Ela, um vestido branco. Sempre gordinha e baixinha como ele, que usava uma camisa surrada branca e uma calça marrom, dessas de algodão.

Voltando ao sonho. O monstro parou, como se temesse aqueles dois. Disse apenas que voltaria. Olhou pra mim. Não me lembro do seu rosto, apenas tenho lembranças do que senti no olhar dele, que caminhou para perto daquele casal olhando sempre pra mim, tentando me alcançar... A sombra o cobriu aos poucos, até que não restou nada dele. Fechei os olhos para não ver mais nada.

Quando abri, estava vestida com meu vestido branco, fora daquele salão. Fraca e tonta, era carregada pelo rapaz, que parecia ter asas nos pés. As folhas das árvores batiam nos nossos rostos, nas minhas pernas, no meu vestido. Chicoteavam na minha pele, enquanto eu era levada para fora dali. Por mais, que quisesse, não via o rosto do rapaz. Sabia que ele me levava e que por vezes sorria pra mim. Quando eu quase acordava, me levou para um lago, para molhar os meus lábios. Ouvimos um grito doloroso. Eu sabia que era ele...

Eu não tinha forças, então o rapaz me levantou, segurou-me e levou-me correndo para longe dali.

Não terminamos nosso destino. Acordei antes de chegar...
Por Ana Greice


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