quarta-feira, 2 de setembro de 2009

"Hóspede em sonhos tão próximos dos meus..."

Agora, que todos dormem e que há esse silêncio enorme...
Logo agora, eu não sei mais...
O vazio as vezes me silencia e me faz gritar tão alto e tão estridente! É como um grito de vento no meio do deserto, “todo mundo ouve, mas fingi que não por pura conveniência”. Se alguém disser que ouviu, vão responder-lhe com toda certeza, antes mesmo de tentarem ouvir, que foi o calor do sol, que agora os perturba e faz com que comece a ouvir e ver coisas.
O problema é que as vezes o grito que se cala no meio do deserto é aquele que pode melhor avisar e esclarecer ao outro que ele está tão sujeito a ouvir os gritos no vento quanto aquele que já tenha ouvido.
Ninguém está mais, nem menos propício a esse sentimento maldito!! Que nos corta incessantemente. Então, porque se nega tanto, que se possa sentir sozinho no meio da multidão?
O ser humano é muito tardio... Já reparou isso? Chegamos sempre na hora da morte, pra dizer o que poderíamos ter feito... O que poderíamos ter falado... É tão difícil... Somos tardios demais. Porque não abraçamos e falamos o que queremos quando podemos? Por outro lado, se deixamos qualquer palavra sair, elas podem destruir os sonhos de outra... Os sonhos... O sonho... Já havia me esquecido dele. Mas acho que agora estou em condições de terminar o que comecei em páginas anteriores.
Onde estávamos mesmo? Ah! Sim, recordo-me que dizia que estava com um vestido rodado, vermelho sangue, parecia uma dama, mas chorava muito. Apesar de ter subido as escadas eu me encontrava na mesma sala de antes, era como se eu estivesse dentro de um espelho naquele momento.
A sala era escura, com pilastras de mármore largas. Eu tentei encontrar novamente a escada por onde havia subido, mas não conseguia. Então, ele apareceu. Era o mesmo monstro que havia me perseguido quando estava no terminal. Ele não mostrava o rosto, mas o reconheci pelas vestes, pelas mãos e também por um sentimento estranho, que me fazia pensar que já o conhecia de outros tempos.
Então ele veio se aproximando e por mais que eu tentasse me mover para não deixar que ele se aproximasse de mim, não conseguia. Minhas pernas não obedeciam aos comandos da minha mente. Ele sorriu pesadamente, e trouxe para mim uma taça de vinho, enquanto tomava a outra. Eu não queria tomar, queria ir embora. Lembro-me de chorar o tempo todo e me recusar a me aproximar dele, mas sentia que quanto mais me curvava, mais próxima estava dele.
Percebendo minha aflição, ele disse: “Não adianta chorar. Ele não pode vê-la, nem ouvi-la. Cuidei para que ele não nos atrapalha-se desta vez.” Quando ele disse isso, eu confesso que não compreendi bem, pois não sabe a quem ele se referia.
Ele notou que eu não havia compreendido então me mostrou numa breve visão, um quarto escuro, iluminado apenas por duas velas e o reflexo das mesmas em uma espada magnífica. O dono da espada, um jovem robusto, vestido de branco, cujo rosto eu não podia ver, mas só aquela presença me era tão familiar, que ao perceber que o jovem estava num caixão, me desesperei. Eu não sabia quem era, mas parecia ter todo sentido da minha vida e que minha mente havia apagado.
“Viu? - dizia o monstro sorrindo miseravelmente – Ele não pode te ver, nem ouvir suas lágrimas. E agora, o que você pretende fazer?”. Dizia ele, acariciando meu rosto. Eu tentava me afastar daquelas mãos frias e fétidas, mas meu corpo não me obedecia.
A taça de vinho caiu no chão e molhou nosso pés, ele se irritou comigo e tentou se aproximar novamente para roubar-me um beijo. Eu tentei me afastar, mas vi-me desfalecendo e de repente a sombra do capuz do sobre tudo que ele usava, foi cobrindo meu rosto. Eu não conseguia ouvir meu coração, apenas a minha respiração ofegante, após uma luta inútil na tentativa de fazer meu corpo reagir segundo a minha vontade. Ele foi se aproximando... Eu pude sentir a frieza de sua pele, já quase tocando a minha.
Uma mão na minha cintura... Outra acariciando minha face...
Minhas mãos sem vida... Sem força... Sem comando...
Minhas lágrimas tocando o chão...
O vinho, sob nossos pés e um!...
Suspiro.
Por: Ana Greice

Um comentário:

  1. Escuramente,
    Fosse eu o monstro,
    Fosse eu a morte,
    Fosse eu a vida...

    Na vela,
    Fosse eu a luz,
    Fosse eu a espada,
    Fosse eu a cruz...

    No medo,
    Fosse eu a força,
    Fosse eu a certeza,
    Fosse eu a esperança...

    Na noite,
    Fosse eu a escuridão,
    Fosse eu o sono,
    Fosse eu o sonho...

    Na poesia,
    Fosse eu a letra,
    Fosse eu a inspiração,
    Fosse eu...

    Somente assim,
    Seria hóspede da poesia,
    Seria hóspede da noite,
    Seria hóspede do medo,
    Seria hóspede da vela,
    Seria hóspede da escuridão,
    Mas te ajudaria a vencer.


    Abraços
    De seu colega Sam

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