segunda-feira, 14 de março de 2011

Discurso ao moderno amor...

Não me lembro de tê-la vista tão linda, como naquele dia.
Sangue real não tinha, mas quem disse que não poderia haver realeza em seus olhos.
Era uma rainha, verdadeiramente uma... Rainha.
Ah... Se soubessem como doía seu peito pela procura, a busca inalcansável de um amor terno.
Ah... Se soubessem como se sentia só nesse mundo, onde pouco importava aos outros os seus sonhos.
Ah... Se soubessem como era belo sonhar com ela e que os mundos em que ela habitava, eram mundos prontos para serem construídos, destruídos e reconstruídos com todos os que ela amava, sem restrição.
Se soubessem que estariam seguros como ela...
Se soubessem que seriam felizes como ela era naqueles mundos.
Mas não. Ninguém quis saber dos seus mundos, sonhos, realeza, sua busca, seu sentimento...
Pouco importava isso tudo, porque estavam todos possessos pelo demônio do meio dia. Aquele que vinha e apressava as pessoas, fazia-as correr, correr e correr cada vez mais para felicidades momentâneas, diferentes das felicidades que ela experimentava em seus mundos.
E assim é.
Aos homens modernos, pouco importa a felicidade que habita no coração dos outros com quem se vive, se convive... Pouco se quer saber ou entender.
Vai-se de esquina a esquina, correndo grosseiramente e fazendo marcas de pegadas descompassadas no chão por onde se passa sem deixar sentido algum a quem experimenta estar em sua vida.
Como acessórios estamos todos nós... E como sermos acessórios de um algo que não é principal?
Descartável não? Sim. Descartável.
Descartam-se os sonhos... Os pensamentos... A subjetividade... E vive-se uma racionalidade comprimida. É quase não viver.
É existir apenas, pela incapacidade de não existir.
Ao homem moderno resta a futilidade de uma vida grossa, sem sabor, sensibilidade, magnitude... Amor!
Qual a pressa?
Do que foge o homem moderno, senão de sua força e capacidade de ser o melhor de si em tempos que mal se consegue dizer aquilo que se sente?
Para onde vai o homem moderno, na sua busca pela imortalidade, senão para a própria morte?
O que quer o homem moderno, senão fugir de si mesmo, enquanto experimenta as loucuras de não ser o que tanto deseja ser?
Ah! Modernidade imunda!! Que prende as melhores emoções em terras habitáveis apenas por seus donos e uns poucos aventureiros de palavras incansáveis, como eu.
Maldita modernidade... Que descartou as cartas.
Colocou no bolso as poesias.
Jogou fora a docilidade.
Encostou a conquista do primeiro amor.
Sugou a beleza do primeiro beijo e fez permanecer a estranheza da carne.
Tirou a suavidade das mãos que afagavam e colocou jogos surreais de tortura em lares da vida moderna.
Ah! Modernidade fétida!! Que arrasta consigo milhões, trilhões de almas incontidas e verdades que não são ditas, pela comodidade que nos trazem todos os dias.
O moderno amor só é cômodo quando não se trata de pessoas como eu.
Sonhadores.
Frequentadores de universos distantes de todos os universos e tão próximos uns dos outros ao mesmo tempo.
O moderno amor só é belo, dentro da vossa modernidade. Aos antiquádos, o amor moderno é uma novela sem graça, sem sal, que não se sente, apenas se cumpre por conveniência ou por medo de estar só.
O moderno amor só tem sentido para os modernos desse mundo e não foi feito para os nascidos velhos como nós. A esse o moderno amor excluiu e fez ficar assim, escrevendo versos dia após dia para aplacar a dor, de se ter e estar só...

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