sexta-feira, 20 de maio de 2011

Variável...

Eu apenas disse: Dalí! Acolá! Amanhã!
Não era preciso tanto, em fatos inconcebíveis de nada.
Em dias de chuva pareço ter o coração mais quente. Sorrímos e na verdade  é bem real.
Dávamos voltas na praça, caminhando sobre os ladrilhos escravos, anos antes colocados para marcar meus pequenos passos libertos. Pequenos passos libertos... Nem tão libertos assim.
Sorríamos...
"Olá!"
Essa sou eu, dentro de um vestido de contas, brincando na pracinha de casa sobre a supervisão nenhuma de ninguém. E quer palavras... E quer gestos...
Eu brincando, não tenho menos sinais ou mais que os que tenho agora.
Cresci assim, a vê-lo nesse estado insuportável de inércia, em que minha existência só se deu anos antes "dela" ter partido...  Ela? Ah sim...
Não me deixem esquecer... Ela, minha genitora.
Quero ressaltar aqui, que nem sempre as coisas foram assim. E pela forma como as coisas aconteceram, posso jurar que excesso de amor também destrói.
Ele a amava... Mas então nascemos... Contaram-me que eram felizes mesmo assim... E longos dias, anos, se passaram em que sorríamos...
"Mamãe", como ela gostava de ser chamada, cuidava muito bem de nós... Julgo ter sido feliz, em seus braços e cuidados...
Certa noite, a vi desfalecer, não havia médico ao alcance de nossas economias e por isso foi-nos chamada a curandeira.
Correram então por toda a casa.
Papai do lado de fora, aflito. Tropeçou em mim, quando viu passar a vasilha com panos sujos de sangue. A curandeira, pediu a vela. Trabalho feito... Meu irmão morto, mamãe quase sem vida, vela acesa.
"Enquanto essa chama estiver aí, ela vai ficar viva. Num posso fazer mais nada, fio."
Meu pai, não teve o cuidado de levar-me para vê-la. A queria para ele apenas. Já grande, eu soube me alimentar, vestir, conforme haviam me ensinado.
Foram dias assim,
Sem que eu visse a sombra dele direito e não cheirasse vida em nenhum dos dois mais. Vivi, enquanto ele vejetava.
Para não deixar que ela perecesse, quando a vela, já se ia quase acabando, ele trocava a chama de vela.
Ele não viu, que eu crescia. Me casei. Tive um filho. Aos poucos, deixei de visitá-lo, "senti que não era importante"
Passei a vê-lo pela janela apenas, contemplando uma vida de vela.
Todo dia, era só mais um dia. Vê-lo era questão de segurança. Eu o velava para ele velar a vela.
E passaram-se os dias, as velas foram uma a uma se acabando. E se acabaram. Eu o vi chorar, quando enfraquecida a chama acenou um brevíssimo adeus e como não bastasse, levou-o também.
Arrebentei a porta, abracei-o. Velei-o, enterrei-o.
...
...
...
Sentado, frente a vela de meu pai "herança psíquica paterna", contemplo-a.
Seja minha vida eterna, enquanto dure a chama...

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