terça-feira, 28 de junho de 2011

Delírios...

Cuidado ao piscar os olhos...
Eu estava sentada na varanda de casa, olhando o movimento e ao piscar os olhos eu já era amanhã.
Era um amanhã cinza, com medo, meio capanga, sem rumo, meio ao vento... E a tarde ía e vinha e eu ainda era amanhã.
Eu vivi um amanhã intenso, restringido na varanda da minha casa e me impedi de piscar os olhos de novo...
Dessa vez o tempo não poderia me enganar... Poderia?
Não sei... Mas me recuso a piscar!!
Me recuso...
E lutei contra a ardência dos meus olhos, tanto quanto pude. Fugi dessa sina... Fugi... Mas não demorou muito e era um outro amanhã.
As gentes vinham e passavam e eu nem estava alí, para dizer algo. Pelo menos não parecia estar.
As gentes vinham e eu gritava, mas as gentes não vinham e eu não era nada além de um vulto num dia que nem era meu.
As gentes não me notavam... Eu não me notaria, vestida de cinza nas cinzas do ontem... Nem me veria ou viveria na hora do hoje, que é mais fantasioso do que a minha própria fantasia dos amanhãs translouquecidos do meu piscar de olhos.
Acorda menina!! Parece que vive no mundo da lua!!
Errado mamãe... Eu vivo no piscar de olhos... Falha tentativa de ser um dia, o que os amanhãs parecem não me oportunizar.
Sim. Parecem... Eu não vejo... Não enxergo... Mas isso é só um defeito de fábrica... E talvez parar de piscar não seja a finita solução do problema.
Recorro a icógnita: De fato é melhor sonhar... Quem sabe viver de coma? E assim um sonho de cada hora, dentro dos minutos, pairando nos segundos e vice e versa nos milésimos... As gentes dos sonhos me veriam... As gentes dos sonhos bastariam... As gentes nos sonhos... As gentes...
Fala de novo, desse sonho... Fala... Eu via um lugar que não pertencia ao tempo e nós não envelhecemos e nem o nosso amor...
E vi uma terra de pégasos e harlequinados, colombinas e borboletas descaradas passeando entre os corpos nus, colorindo a alvorada.
Jogamos as cartas e vi no seu futuro que nada além dos sonhos era mais do que devia ser seu.
Eu bebi um vinho e beijei diamantes, mas você era pedra e não eu.
Eu não falava coisa com coisa... Coisas que você não via e nem entendia, mas ria, porque me amava...
Passado o efeito do delírio... Eu não era um doce, os pégasos, eram burros amordaçados na calçada... A colombina era uma safada... E o harlequinado um pobre coitado que doente de amor, caiu no gosto dessa pilantra. 
Das borboletas pouco se fala...
Sobre você...
Bem, eu sei que passou por aqui, uma hora... Mas eu pisquei os olhos e aí... Bem, você sumiu quando eu acordava...

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