domingo, 26 de junho de 2011

Não soube...

Então é isso...
Sim...
...
...
Quer me contar algo?
Não... Acho que não merecemos mais... Já foi o suficiente por uma vida...
Porque?
Ah não... Deixemos os porquês, eles não cabem, caberiam nesse diálogo. É só isso, pela única e sensata questão de ser isso... Para que mais? Não temos que nomear nossos monstros, já sabemos dos seus traços... Eu...
Espere... Não era para ser assim, você sabe...
Mas agora é!
É isso que você quer?
...
Como se explica isso?
Guarda pra você... Tenho muitas ainda a despejar pelos olhos.
Eu não pretendo, queria de ti os risos...
Não... Esses não darei, não te daria, já me roubaste o suficiente. Já tiveste meu corpo, por acaso quereis roubar também minha alma? Saiba que ela se esvazia no meu riso.
...
Eu queria você... Mas não soube como querer direito...
É porque não me soube caber dentro de você... Já se havia ocupado demais dela.
Não é minha culpa...
Quereis condenar-me?
A quem posso?
A tua comodidade... Ela te prende e aí te faz desejar prender os outros também.
...
Querias me excluir do meu mundo para ter-me no teu, sem nem dar-me espaço dentro de você...
Não me culpe!
A quem posso?
...
Basta!
Você tem razão, tinha... Os porques doem... Melhor não mexermos neles...
E agora?
Parto... Se perdi essa batalha, não me compete ficar mais aqui.
E vais assim?
Sim...
Assim? Logo agora que eu te amava?
Você não sabe amar direito... Nem eu... É tudo aprender e aprender-te e apreender-te, tem me custado suspiros...
Espere!
Não. Sejamos honestos. Não é para nós isso de amar... Vou-me... Parto...
Não... Fique...
Não posso... Se quereis, venha... Ainda te cabe aqui...
Não posso...
Porque?
Não sei...
...
...
Ouvi os passos, passando por mim em direção a saída. A folha fora deixada sobre a mesa. Mais alguns passos... 
O peso sobre meus ombros, fez-me curvar, sem que eu pudesse se quer olhar na direção dela.
Meus olhos enxarcaram-se e ao menor tempo, vi pousar sobre o solo duas grandes gotas de lágrimas produzidas por mim. 
Quis gritar seu nome, mas algo apertava a garganta... Tremi... Punhos fechados...
Mais alguns passos. Outra parada. Eu sabia bem, o que se passava. Doía nela, tanto quanto em mim, mas não sabíamos mais suportar tudo.
A porta abriu... Um passo no sentido inverso ao da porta. O barulho da consciência acusando. O braço que se estendeu sobre mim.
Eu imóvel, querendo mover. Corresponder a sua fala de gestos... Não soube...
O passo voltando para a porta. Passou a porta. A porta foi fechada... Ouvi sua dor lá fora... Quis correr...
Não pude... Não soube... E doeu... Eu covarde, deixei-me  perdê-la.
Silêncio...
Silêncio...
Silêncio...
Si...
Suspirei... Meu peito doeu... Houveram batidas falhas no peito... Cinco passos na direção da folha... 
"Agora sem mim, reescreve, reinventa a tua história... Amar-te... Irei, quem sabe eternamente. Esse mal, doce mal de um dia nos ter pertencido... É único para nós."
Não soube dizer nada, matei-me nessas palavras, logo abaixo de suas últimas palavras.
"Não me cabe mais... Não pude mais... Perdoe-me."
...
...
Quanso me encontraram, eu já não suspirava. Não estava com os punhos cerrados. Sondei o corpo no chão... Meu corpo... Corpo no chão. Já não agonizava amores, suspiros, desejos ou maldades... Era apenas eu...
A tua espera...
Aqui desse lado...

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