terça-feira, 6 de setembro de 2011

Feras...

Na verdade, eu estava errada...
Esperava que sua morte levasse de mim aquelas malditas lembranças... 
Enganada, eu mal podia fechar os olhos a noite sem antes saber que você estaria alí, em cada parte da noite que me cercava...
Eu não sabia que te diferenciaria naquela escuridão absurda, mas era capaz de ver você, distinguindo-o da noite, como forma mais obscura... Textura fúnebre, fria que se aproximava do meu rosto indo e vindo...
Eu tinha medo... Tive... Tenho... E via você, monstro andando na noite, sem poder tocar a minha luz... Sondava-me...
A psicanálise presumiria que eu projetasse em outro a sua monstruosidade. E talvez quem sabe reproduzisse fielmente os seus feitos, como discípula fiel da mácula.
Eu porém, quis contradizer tudo... 
Contrariando a teoria freudiana eu me condenei a lembrar todos os dias o maldito dia em que experimentei a transparência humana...
Fétida transparência humana... Rasgando uma alma em construção, abalando sua estrutura, sua base para ser sempre ameaçada de uma possível demolição de minha personalidade.
E encaixo-me no rastro de perversão...
Um "Q" perverso, que não vê graça no mal alheio, mas aspira e necessita o próprio mal, como se lhe fizesse mais bem... 
Querendo-se queixosa, dolorida, transitando entre o doce e o amargo proporcionado pelos lapsos de uma péssima lembrança. Eu não entendia, mas sabia...
Não tinha de ser assim... Não podia ser assim... Mas é assim!
E quereis implantar em mim, as lições do que angariástes como certo ou errado?

...
Não me perturbe a inteligência...
Não me quereis soltar a fera, nem domesticá-la... Sobre tudo desejais fazê-la morta... Extirpando-a do convívio... Da comunidade...
Não me quereis entre vós... 
Querei-me onde estou: Presa! Grilhões, máscara, ferro...
Então é assim: Cria-se as feras.
Ensina-as sua arte de ser o que a moral prega contra e depois assassina-a, como em uma experiência.
O homem cria um membro podre no centro da cidade... Um galho seco cujos frutos, embora belos são perfeitamente venenosos...
Deixa-se aproximar do galho a comunidade... Faz dele o centro... O belo... Seduz com ele...
Uma fera em potencial esperando a hora de libertar-se...
Não obstante, deixa-se que se experimente do fruto...
Vê de longe...
Rompe-se a estrutura... 
Morre-se a capa... 
Exterioriza-se a fera... 
Cai-se sobre ela...
Teorizam... Experimentam...
Matam-na... 
Enquanto na encumbadora já se gera outra fera.

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