segunda-feira, 2 de julho de 2012

Pequeno barco (Sessão desabafos)

"Quando foi que tanta coisa perdeu o sentido?"
Me fiz essa pergunta por semanas Anna e a resposta ainda permanece embaixo da névoa...
Li sua carta várias vezes... Senti sua carta várias vezes, como se fosse minha escrita partindo de você...
Aí me sentei aqui várias vezes para escrever o que eu sentia e de repente, por um turbilhão de emoções, a escrita entalava na garganta, se espremia no peito e me esmagava com toneladas de solidão que vinham de todos os lados...
Ai Anna... Se eu pudesse não ter esse coração desse jeito... O que seria de mim?
Você se disse barco e me recordei de um desenho da Disney que gostava muito de assistir quando criança.
Vou relatar aqui brevemente essa historinha, para que você entenda meu ponto de vista.
Era um barquinho pequeno, que sonhava em ser como os grandes cargueiros que íam para alto mar e retornavam contando suas aventuras... Sempre impressionado o barquinho dizia para si: "Um dia, serei grande como eles e farei grandes coisas, como eles fazem... Serei reconhecido! Serei forte! Vistoso e imbatível!". Assim, o barquinho seguia... Sempre sonhando, com o dia que em que se tornaria uma embarcação de grande porte... Deslumbrado com as histórias vivenciadas pelos barcos maiores.
Mas a vida passava... O barquinho não crescia e nunca, nunca tinha grandes aventuras para contar, porque era um pequeno rebocador, com pouca potência e que ficava na redondeza, "auxiliando", as embarcações velhas, que perdiam suas forças no grande mar.
"Eu queria ser maior! Queria fazer mais! Não aguento ser esse ridículo barquinho, que todos caçoam, porque só serve para pegar os velhotes." E o barquinho se entristecia... Nunca era chamado para grandes aventuras. E os barcos maiores riam de seus sonhos, fazendo-o se sentir ainda pior.
Havia uma grande embarcação orgulhosa, que olhava para o pequeno barquinho e o menosprezava. Ria de sua pintura desgastada, do seu tamanho, do seu apito fraco, etc..
Ahh... Aquilo doía! "Talvez eles tenham razão... Nunca serei alguém de importância... Sou muito pequeno... Não sou forte... Não sou bonito..." O barquinho chorava e todos continuavam a rir dele.
Certo dia, as embarcações saíram além mar para uma missão muito importante... E mais uma vez, o pequeno barco ficou no porto, esperando a hora de ser chamado para o seu tão vergonhoso trabalho.
De certa forma, à aquela altura, o barquinho já havia "se conformado"...
Aconteceu naquele dia, no entanto, uma grande catástrofe no mar e as embarcações de grande porte, foram bombardeadas ficando impossível de continuarem sua missão.
Sem opção no porto, pois estavam ali, as embarcações velhas, sucateadas e sem forças, olharam pela primeira vez para o barquinho e o capitão tomando seu leme, direcionou o barquinho para onde estavam as outras embarcações.
ERA A ÚLTIMA ESPERANÇA!
Já desacreditado, porém obediente, o barquinho se colocou a disposição e segui para o mar... Certo de que não seria capaz de realizar meia viajem com seu motor fraco...
Ao chegar onde estavam as grandes embarcações, o pequeno rebocador encarou a situação... Barcos destroçados... As grandes embarcações que riam dele, padeciam...
Com pena, o barquinho navegou entre eles... Dando óleo a alguns... Retirando os mais feridos do meio da confusão e levando-os ao porto...
Quando retornava para buscar mais um, eis que uma grande tempestade tomou conta de todo o mar, diminuindo a visibilidade e fazendo com que as grandes embarcações que ali estavam, ficassem a mercê do tempo...
O barquinho corajoso, cortava o mar, buscava mais um e voltava para buscar outro... Nem se importando com as condições do tempo. "Preciso ajudá-los! Se eles estragam ali, muita coisa pode se perder e não tenho força para fazer muito, como eles fazem." 
Assim, o barquinho trabalhou uma noite inteira, até que por fim, retara na madrugada, a grande embarcação que havia caçoada dele por toda uma vida.
O grande barco disse: "Pequenino, não há nada que você possa fazer por mim... Vou afundar aqui... Pois meu motor está fraco, visto que passei a noite toda tentando manter-me estabilizado para não virar e perder toda a carga... Você já tirou de mim, um grande peso, mas ainda assim, não tenho forças para levar-me ao porto. Por tudo o que te fiz, deixa-me aqui." 
A pequena embarcação, no entanto, tomou seus cabos e entrelaçando-os na grande embarcação, forçou... forçou... forçou e moveu-a com todo o cuidado e zelo.
Àquela altura no porto... Os outros barcos, já começavam a desistir e lembravam da bravura do pequeno barquinho, que havia passado uma noite toda resgatando-os com firmeza, para que todos se salvassem.
De repente, quando ainda comentavam, surge no horizonte uma pequena mancha. Estasiados, correram para ajudar o barquinho e viram o que a névoa escondia... 
A GRANDE EMBARCAÇÃO QUE ELE TRAZIA DESTEMIDAMENTE PARA JUNTOS DE TODOS!
Pode imaginar isso Anna?
Um pequeno barco, para quem ninguém dava nada, trazendo uma grande embarcação...
Assim somos nós... Eu sei... Pequenos barcos... E como somos pequenas, não?
Mas até os pequenos tem o seu valor...
É que as vezes, ainda não é o momento de partirmos para alto mar...
Potência no motor? Ahh... Isso temos sim!
Dure o tempo que durar... Passe o tempo que passar... Tenhamos medos, anseios, que tivermos de ter... Deus não olha o tamanho da embarcação, porque fez ela e conhece a potência do motor...
Para cada missão, um rebocador, um titanic, barquinho de papel... Que seja... Todos temos nosso lugar...
Todos temos, nossa missão...
Percebe, no entanto, que foi só quando o capitão tomou o leme que o barquinho foi a alto mar?
E nós estamos assim, não?
A disposição do capitão...
A espera, de que Ele no use para aquilo que reservou ele mesmo para nós....
Ai Anna... Pequeno barco? Pequeno sim! Com muito orgulho, faço o favor! (risos)

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