quarta-feira, 10 de junho de 2015

Sonho parte 1

Nem sempre me lembro bem das coisas que sonho...
Na maioria das vezes tenho flashs sobre o que vi durante o sono.
É por isso que quando me lembro é um filme de terror a parte...
Dessa vez, me lembro de estar em uma cidade escura.
As casas mantinham-se sempre a meia luz... Coisa que eu podia ver através das janelas de vidro, embaçadas por uma sujeira que lembrava muito o fundo de garrafas de vidro muito usadas... E lá dentro eles moravam... Eram pequenas famílias, que viviam suas vidas perfeitamente normais, até que ao entardecer o primeiro sinal era dado...
Um toque de recolher, eu diria... E tudo que estava sendo feito a luz de velas ou fora das casas, era deixado para trás...
Então soava o segundo sinal e todas as luzes eram apagadas... O silêncio pairava e tudo era negro... Encolhidos em casa, eles esperavam ele ir passando, sombreando as paredes, os muros... Deixando a marca da sua respiração nas velhas janelas empoeiradas.
Reinando sobre a agonia daquela gente... Um meio dragão, meio humano passava quando a escuridão caia sobre as casas.
Me lembro de chegar a essa cidade, levando muito pouco e sem saber bem, como havia parado naquele lugar... Era tarde... E o segundo sinal já soava... Eu caminhei em direção a uma casa...
Vi uma mulher, agarrada a duas crianças e um homem, olhando-me com muito temor... Tanto que temi também... E tive pena...
Fiz sinal para a porta.. Eu sentia sede, sentia frio... Eu procurava abrigo...
Mas eles apenas continuaram me fitando e balançando temerosamente a cabeça...
E então comecei a sentir medo, algo frio quase me envolvendo e os olhos daqueles moradores se esbugalhando cada vez mais sobre mim...
Ia me desfalecendo, quando alguém me puxou. Não vi seu rosto, mas era rápido...
Corremos... As nossas costas uivos e frio, muito frio...
"Não olhe pra trás! Não olhe!"
Obedeci!
Continuamos correndo até encontrarmos uma fenda em algum lugar já distante da cidade e das casas...
Ouvi gritos tão tristes de uma mulher... Chorei e nem sabia por quem chorava...
Adormeci ali mesmo...
Quando acordei, um sujeito encapuzado, com marcas de queimado sobre os punhos, segurava um punhal a minha mira, tentando decifrar-me...
No meu menor movimento, ajeitou-se rapidamente, me pedindo calma... Na verdade ele não iria me ferir...
Senti, minhas costas, minha cabeça, pele e olhos, queimando como se uma brasa desenhasse meu corpo.
Tonteei e cai, com o sujeito caindo sobre mim, rezando em latim enquanto cingia-me com um medalhão de ouro, com escritos antigos, duas chaves se cruzando, sobre um pelicano e um círculo resguardando-os.
Desmaiei...
Quando acordei, o sujeito me encarava, segurando o punhal...
Perguntou se eu tinha fome e jogou pão...
Eu tinha sede, minha cabeça queimava...
Mas quando pensei em pedir água, ele se virou e ainda abaixado, disse-me: "Água não. Vai piorar o que você está sentindo. A sede é efeito do veneno."
"Que veneno?" - perguntei.
E ele bruscamente rasgou as mangas da minha blusa e eu vi a pele sobre os meus ombros fritando. Senti arderem como nunca. Gritei toda a dor que pude.
"Você teve sorte por eu tê-la encontrado. Mas passei os últimos cinco dias, me perguntando que tipo de gente, se coloca nas ruas após os segundo sinal. E cheguei a conclusão de que você não é daqui." - disse ele.
"Não sei como cheguei aqui. E nem que lugar é esse." - respondi.
"Eu sei." - disse friamente.
"Quem é você? Porque me ajudou?" - Eu quis saber.
"Fiz minha obrigação. Dá conta de caminhar?" - respondeu friamente mais uma vez.
"Sim. Pra onde?" - respondi me levantando.
"Toma. Vem depressa e não olhe pra trás. Fale menos, isso vai ajudar você a ter menos sede e a caminhar mais rápido. Tá vendo aquela montanha? Temos que chegar lá antes do sétimo dia."
Eu vi que ele não queria conversa, então, segui apenas. Íamos caminhando.
Ele sabia cada lugar, cada coisa... Eu estava muito fraca, mas ele ia rápido, fiquei com medo de ficar pra trás.
Chegamos numa gruta, então ele mandou q eu entrasse. Fiquei observando de longe, enquanto ele cingia a entrada com um líquido e falava algumas palavras em latim.
De repente ele entrou, olhou meu ombro, cingiu com o óleo e depois sem dizer nada, foi acender uma fogueira para aquecermos. Deu-me mais pão e me mandou dormir.
Fui acordada no outro dia, quando o sol ainda aparecia timidamente e seguimos em frente.
Vi pegadas próximas a gruta, eram grandes e lembravam muito a de um lobo. Mas algo me dizia que era mais do que eu já havia visto. Existia um furo profundo na marca do calcanhar... Ela me deu medo... Eu quis continuar. E segui o sujeito.
Ele me levou a uma grande rocha, onde vi entalhadas várias marcas e era tão alto, que parecia que cutucava o céu. Era cinzento, como se quisesse se perder na neblina.
Entramos por uma porta estreita até chegarmos ao centro, onde muitos outros pareciam já me esperar.
Ficaram me fitando, até que uma moça se aproximou, descobriu meus ombros e senti eles arderem.
Cada vez que eles eram descobertos a dor me apagava e me arrastava a um sono profundo, me fazendo acordar em outro lugar. Dessa vez, em uma cama, num velho quarto com velas para todos os lugares, água, espelhos e a velha.
"Como você está? Melhor?" - perguntou-me ela. - Cortamos o efeito do veneno, mas ele ainda está no seu sangue."
"O que aconteceu?" - eu quis saber.
"Você foi mordida na noite em que caiu nesse mundo. Foi um plano diabólico para sabotar-nos. Eu sei que tudo se confunde pra você agora. Essa época é muito confusa para todos que chegam aqui. E você chegou no final do baile. Estamos a setecentos anos da era comum, em guerra."
"Contra quem?"
"Ele chegou arrastando tudo. Estraçalhando. Minha família defende essa nação a gerações. Já o ferimos várias vezes, mas nunca mortalmente. Ele sempre volta, amedronta e silencia tudo. Faz tanto tempo que lutamos, já estamos fracos. Minha idade já não me permite mais como antes. Todos esperavam de mim um herdeiro, que desse força e sequência a essa luta. Meu único bebê foi tirado de mim, após uma batalha, sendo mandado a outro mundo como proteção sobre sua vida e com a promessa de retornar um dia, quando chegasse a hora." - disse ela se aproximando de mim, carregando um pequeno medalhão com os mesmos sinais inscritos no medalhão que o vi o sujeito usar. - E ela veio... Quando pensei que não mais a veria... E mesmo que eu saiba como isso é importante, não posso obrigá-la a empunhar espada, por esse povo que ela não conheceu.
Foi tão estranho... Eu senti verdade nos seus olhos, mas recuei... Ela olhou com ternura e temor, levantou-se enquanto alguém entrava rapidamente no quarto.
"Ele veio. Não temos tempo."
Eles saíram do quarto correndo. Olhei pela janela e lá embaixo pude ver as chamas, fumaça, árvores caindo. Tudo se chicoteando. Desci as escadas e nem sei porque. Mas quando chegava ao solo, o sujeito que me salvara uma vez me puxou e me levou para o quarto trancando a porta e me jogando contra a parede com tanta raiva que me assustava.
"Para que você veio? Esse povo não precisava disso a essa altura? Você encheu os olhos de todos. A mãe morrerá. O que vai sobrar para nós? Se eu tivesse seu sangue... Sua realeza... Você joga, tudo isso fora e zomba da fé do meu povo. Devia tê-la deixado agonizar. Hipócrita!"
"Eu não sabia... Quero ajudar, mas não sei como..."
"Lute! Ou pelo menos queira lutar. Essa noite ela morrerá... Odeio dizer isso, mas só teremos a você."
"Ensine-me."

Um comentário:

Valsa

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