Porque nos permitimos perder as coisas que nos agradam, quando são elas que mantém toda a engrenagem funcionando?
É como ser roubado e concordar com o roubo.
Tenho medo de chegar à minha velhice sem a versão de mim, que me fez chegar até aqui. Sei que ela é paciente e entende, mas em meio a tantas exigências sociais, me angustia pensar no abismo que isso vai criando entre eu e ela e não quero esquecê-la.
Também não quero lembrar-me dela apenas como uma peça rara, dessas que deixamos na estante, de vez em quando lembramos que está lá e de todas os pensamentos e lembranças para as quais nos transportam. Quero integrá-la a todas as versões... ela que sou eu e que caminha com a mãe, a empreendedora, a psicóloga, a filha, a irmã, a amante, a amiga... Ela que sou eu na forma mais genuína... Ela não pode ser sombra, nem nevoeiro, tem que ser guia, pois é a única entre todas as versões, forte o suficiente para uma existência de papéis que não posso fugir (e nem quero, pois necessito).
Minha cara eu, obrigada por gritar vez ou outra e lembrar-me as notas mais profundas dessa essência... Doce perfumista, encabeçando notas de quem sou, unificando e marcando meus rastros, na minha própria e na vida de quem cruzo por aí.
Espero ainda, já sendo mais exigente, que se ainda um dia, ou, quando um dia eu não mais existir, permaneça nesse mundo e com quem tive o privilégio de conviver, sendo memória olfativa, gustativa, visual, auditiva... sinestesia e assim, jamais ser esquecida.
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