domingo, 6 de setembro de 2009

“e vamos transitando de um universo a outro, como se não fazer sentido algum, tivesse todo sentido.”

Debruçado sobre a janela, o homem de traços fortes admirava a bela menina que brincava eu seu jardim... Não era sua... Nem a conhecia, mas temia por ela, esvaziava-se por ela, desejava tudo por ela, queimava-se por ela...

Bastou-lhe um sorriso, para que soubesse que ela assim permaneceria nele para sempre. Sem ser sua, a menina cresceu, traçou novas metas, saiu do seu jardim, para conhecer outro que a encantara permanentemente.

A menina sorriu. Mas seu sorriso não era e nunca seria do homem de traços fortes debruçado sobre a janela que a admirava... Sua alma gritou para que ela o ouvisse, mas a menina era feliz demais para ouvir os lamentos daquele homem. E então ele chorou, desinteressado da velha vidraça da janela em que tanto admirava a menina, ele sentou-se na velha mesa de sua humilde casa, diante de uma vela quase apagada, “herança de sua falecida esposa seca” e deixou que ela se tornasse seu único objeto de desejo. Se um dia ela se apagasse talvez ele também se apagasse.

A menina foi. O jardim morreu e o homem também.

Num belo dia, a menina passava pela antiga rua onde deleitou sua infância, olhou a pequena casa, sentiu seu cheiro inolvidável, mas tudo estava tão diferente, tudo estava tão cinza que ela não soube ao certo o que era e nem porque gritava tão alto em sua lembrança. Ela correu para janela da velha casa que só não pensou estar abandonada por perceber uma luz fraca, que insistia ultrapassar a vidraça empoeirada da janela...

A claridade da nossa memória brinca todos os dias com nossos brios. Ninguém escapa. Não há esconderijo. Mas vivemos sempre acreditando falsamente que podemos contornar.

Mentirmos para nós mesmos é tão comum e é o nosso mais alto grito de incompetência para conosco.

Cheguei em um ponto de puro egoísmo essencial. Talvez você não me compreenda. Mas nesse momento não posso esperar e nem contar com a sua compreensão. Até porque talvez a minha dor e tudo que me cerca não lhe interessem. Neste caso, faço bem em não vos esperar.

No entanto, caso você venha a sentir as mesmas coisas, não convêm fazê-lo esperar, por tanto, não o farei...

Como dizia, cheguei num ponto de puro egoísmo essencial, aliás para ser sincera não sei bem se é isso. Eu já disse anteriormente que não me compreendo e de fato não compreendo mesmo. Se quer saber, tenho um nó na minha mente. E me parece que quanto mais tento desfazê-lo, maior e mais forte este nó fica de forma que não sei mais as horas que estou sendo verdadeiramente humilde e as horas que estou usando de falsa modéstia.

Afinal de contas o que eu sou? Penso que sou uma vilã as vezes, pois muitas coisas que deveriam doer em mim, não doem. Eu confesso que não sei se é por falta de espaço dentro de mim, depois de estar sofrendo por tanta coisa que eu não sei.

Tenho também as vezes que acho que sou a mocinha da minha vida e que sou vítima das faltas de tantas coisas no mundo. No que vivo e no que transito.

Quem vê os meus risos, pensará talvez que seja plenamente feliz. A verdade, aquela mais pura. É que sorrio para os outros involuntariamente, quando o riso acaba penso no quanto fui idiota em rir e sinto nojo de mim por ter sorrido em quanto tantos a minha volta, aqueles que amo verdadeiramente, não podem sorrir. Eu só queria uma justificativa para isso. Afinal de contas se estou sorrindo quando deveria estar chorando com os meus, porque não consigo fazer isso?

Não é falta de dor!! Acabei de chegar a essa conclusão, pois enquanto falava , meu coração palpitou, queimou tão forte, pensei que fosse chorar, mas não consegui. E agora? Quem se comportaria assim, a vilã ou a mocinha?

Talvez eu seja esse equilíbrio insensato, de passos estreitos, tentando saber onde foi que me dividi e porque o fiz para ficar desse jeito. Eu não me lembro de ter desejado tal coisa. Lembrar-me? Não. Já não sei se é o correto a se fazer. Se voltar as minhas lembranças me fará descobrir que atuação tenho em minha vida, talvez seja melhor guardar isto a sete chaves.

É melhor transitar pelos mundos. E torcer para que minhas respostas estejam neles...

Por: Ana Greice

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...