quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Jogados ao mar...

Todas as manhãs, ela se levantava, tirava as sandálias gastas... Mesmas sandálias gastas, caminhava em direção ao mar, olhava-o por um breve momento, molhava as mãos, brincava com a água, limpava uma lágrima e depois andava em direção ao banco velho de madeira, sentava-se sempre no mesmo lado e cantava a mesma canção.
"Um olhar amor, um único olhar
Um suspiro amor, um único suspiro
Um verso que seja para cantar-me delícias (...)"
E se ia uma manhã inteira, entre lágrimas, um canto doloroso, uma alma vítima e um olhar sobre as ondas que iam e vinham sem trazer as repostas que ela tanto desejava.
O que ela tanto queria?
Simples... Que o sonho chegasse depressa... Viesse navegando agarrar-lhe e levá-la dali.
Uma vida inteira a espera dele, como tantas vezes prometera...
Certa manhã, cansada, a moça caminhou para o mar, desatou as sandálias, despiu-se, fez sinal ao tempo e abraçou o mar com todas as forças.
Seria um final feliz, não fosse a ferocidade com que o mar a levou...
Não fosse a inconstância das ondas...
Nunca mais se viu seu rosto ou ouviu-se a sua voz...
Soube-se que existiu e só!
Anos depois, mexendo em suas coisas, suas lembranças, o sonho chegou e lamentou ter chegado tão tardiamente.
Queria tê-la ouvido... Com certeza, aquela seria a voz mais linda que ele poderia ter ouvido e não pertenceu a ele...
Seria o sonho do próprio sonho?
Quem sabe?
Não houve momento para isso... Jogados ao mar... Inércia, ironia que não se aplica as possibilidades de ter uma vida jogada a um mar de sonhos que talvez nem exista.

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