quarta-feira, 2 de março de 2011

De alma...

E então...
O que dizer agora?
Quando as palavras estavam soltas em nós era mais fácil.
De uns tempos para cá, eu te silenciei, para fazer-lhe gritar alto ao outro o que estava internalizado em mim.
Nossa loucura agora escancarada em versos, grita ao som de um piano violento e um coral ensurdecedor de loucos como nós, sedentos do mesmo veneno.
Houveram palavras antes... Impronunciáveis agora...
E chega ser gritante a saudade da insensatez que me cercava outrora.
Alma minha a quem velei por dias em busca de uma paz traiçoeira.
Alma minha a quem meus versos gritaram imponentes, como grita um general antes da guerra aos seus.
Alma minha violada... Violência justa quebrando grilhões, correntes inteiras que se fizeram pó, perante o teu anseio de liberdade.
Alma minha dizei-me agora... Trazei-me as loucuras e as doçuras do pensamento mais surreal que minha virtude alcançar.
É de terra que clamo... Grito ensurdecedor do soprano estourando os limites de sua tessitura para dizer ao mundo que de alma em alma busca o que no mundo já não pode encontrar.
E vivo... Insisto nisso. Mereço-me, dentro de uma pele. Arrastada pelas morais vigentes que me trancafiaram abaixo dela.
Cala-te!!!
Seja sujeito aos planos dessa prisão de veluda.
E alçando vôo encontre a liberdade em sonhos, como pássaro batendo as asas fora do ninho pela primeira vez, sabendo que ao acordar voltará para a prisão de pele. Onde se encontrará eternamente unida pelo cordão umbilical advindo de suas misérias.
Fugaz alma, que ardente transcede e transborda. Máscara, desenhada pelo tempo, forjada no aço pelas mãos de um poeta.
Vida desgastada que abraça a estrada escandalizada, como se não houvesse chance...
Olha para os teus passos... Pegadas sólidas... Marcas na areia sustentadas apesar das ondas que indo e vindo visitaram cada passo seu e meu, que é um no fim das contas.
Dize-me alma... Dize a mim! Sou eu, tua vilã? Aquela que te massacra por querer-te viva dentro de mim, enquanto desejas estar viva do lado de fora?
Dirás isso a mim?
Se sufoco teu grito... É porque há muito já sufocaram o meu.
Se abafo teus risos... É porque há muito abafaram os meus.
Tu me condenas, pela prisão de pele a que te acometi.
A quem devo condenar? Dize-me, alma nobre!
De carícias vos desfaleci e se antes inóspita, hoje vemo-nos corpo e alma, alma e corpo em um confronto de dores incalculáveis. Culpando-se pela miséria que uma escancarou a outra.
É a minha pobreza o teu demônio? Tua pobreza é minha também...
E se de pesares tens vivido, faz doer em mim duas vezes o teu sentido, tal como eu a ti.
Não é minha a culpa, nem vossa. Entrelaçados, corpo e alma, vivo.
Existência que não se explica... Existiremos apenas... Corpo, alma, verso, gesto, que seja...
Não mudaram os fatos... Existiremos.
Era de se ver, frente ao espelho quando nos encarávamos. Trajando as melhores vestes. Dignos da realeza. Uma coroa melindrosa. Espelho, capaz de refletir nosso próprio reflexo, afim de não nos deixar escapar nada. Nada que nos deixasse mais livres...
Um canto púrpura para mestres de mundos particulares em mentes insondáveis quando se está dormindo.
Durma, alma minha... Durma...
Em braços cansados repousa, sob o som magnífico do soprano insolente, cuja a melodia vem fechar as feridas e abrí-las, para tornar dinâmica a vida.
E se assim, permaneces infeliz, que dirá, que tendo-te dentro de mim, serei assim duas vezes, até que tornes a encarar tua grandeza, em meio as jóias que nos foram doadas neste mundo.
É de alma que clamo, porque de alma vivo, para a alma insisto, com a alma sigo para universos cruéis em busca do paraíso.

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