terça-feira, 21 de junho de 2011

João Viçoso...

Era de pedra o seu coração...
Aquele homem...
O que eu conto aqui passou de boca em boca até mim e não vai morrer na terra, porque é a história de um homem ruim.
Nas terras desse Góias, há muitas coisas a se contar. Gente de todas as formas, gente que nem de gente pode ser chamado, tamanha a sua maldade.
Eu não lembro que idade eu tinha, quando soube dessa história e até hoje, velho como eu tou arrepio os cabelos da nuca quando passo na entrada daquelas terras.
Quem viu e quem vê agora, nem sabe dizer ao certo, se vê a mesma coisa.
De uma terra vistosa, que dava gosto da gente ver, uma terra seca, que não dá frutos e dá medo da gente visitar.
Seu dono era um homem robusto, que ganhava tudo na base da ameaça. Maldade naquela época tinha um nome: "João Viçoso" ou simplesmente "Seu João, como era chamado. Cercado de capatazes ela rondava as terras dos outros.
Viesse a bater na sua porta. Humm. Não se nega nada a João Viçoso.
Entrava nas casas e os pais temerosos escondiam suas belas filhas. Fosse João Viçoso, encantado por alguma, não negasse o pai, dar-lhe a filha por uma noite ou perderia tudo.
E assim, João Viçoso fez fama. Tomando as terras dos menos favorecidos e tirando a pureza das donzelas, com o consetimento dos pais ou a força, nas estradas por onde a moça andava.
Ele era casado e pai de três filhos, cuja a boa educação perderam na estrada e eram tão ambiciosos quanto o pai.
A mulher não sabia assinar o nome, mas empunhava bem uma arma, para defender as terras do marido e a fortuna que lhe rendia as futilidades a que se entregava.
E o diabo cresceu o olhou em João Viçoso. Armou-lhe uma arapuca daquelas que sabia bem, não ser capaz de sair a sua presa.
Em um dia de caça, uma jaguatirica, almejou o homem, arrastou-lhe de cá e acolá e soutou-lhe no brejo, longe dos seus homens que o procuravam enlouquecidos.
Sozinho, João Viçoso, viu a jaguatirica, se torcer e contorcer até virar um bicho desconhecido.
Ai!! Que isso? 
Não me reconhece João Viçoso? Serves a mim, sem saber? Eu de nomes sou farto: Encardido, caramunhão, cão...
E o que veio fazer aqui?
Já sei bem da sua história e o fim que você terá. Você é dono de muitas terras, mas quando partires de nada te valerá. Vai e vende os bens roubados, faça o mínimo se quiseres um lugar. No céu já não tens posto. No purgatório nem há de passar. Se morrendo desejas um canto, resta-te o inferno, mas pra isso, tens que voltar.
Vender meus bens?
Vai e vende teus falsos bens e dentro de três dias, te arrumo um belo lugar...
Dizendo isso, sumiu o encardido entre fumaças, quando já se iam chegando os capatazes. Pegaram João Viçoso, muito ferido e levaram para a casa. Mas acreditando que viveria, João Viçoso, não quis nada contar a família.
Três dias se passaram. Morreu Seu João, enterrado na Fazendinha, só a família e um ou outro peão.
"Agora é tocar a vida. Não quero saber de choro mais não."
Assentiram todos e de volta a casa, retomaram as atividades no luxo.
No outro dia, indo cuidar dos túmulos, quase parte o coveiro também. Sentado no tampo do caixão, roía as unhas um conhecido cidadão.
"João Viçoso!" Assustou-se o coveiro.
Não se esquente comigo. A terra me rejeitou. Ou vendem os bens e que haja partilha ou cuidem desse senhor.
O homem caminhou até a fazenda. Na estrada os animais se afastavam e dele fugiam temerosos do homem q nem homem mais era e q também não morria.
Reunida a família, a loucura não era consentida. 
"Mandem deitar o homem no laço, nessa casa não haverá partilha."
A esposa não queria ficar pobre, muito menos seus filhos. Sete foram os dias em que se seguiram. Levavam João Viçoso para o cemitério, enterravam e no outro dia, sentado sobre o tampo do caixão eles o encontravam.
Vendam os bens. Nem no céu e nem no inferno. Eu não aguento mais.
Mas endureceram o coração e não quiseram vender nada. Fizeram um cômodo no meio do pasto. A noite João Viçoso vagava para comer capim, leite azedo, carvão e terra seca e de dia no seu cômodo esperava que sua família vende-se os bens e o deixasse partir.
A família, foi amaldiçoada. A maldade do pai dominou os filhos e um a um morreram matados nas mãos de gente que ninguém sabe. A esposa não gerou mais nenhum filho, casou-se com um caboclo de estrada que a matou enforcada com um colar de pérolas e duas pedras de esmeralda nos olhos. Fugiu com todo o dinheiro e deixou a fazenda a mercê dos peões.
Ninguém quis cuidar de João Viçoso. A terra foi secando. Nada que se plantava ia pra frente. O gado morreu de fome. A casa caiu. E ninguém que comprava a terra ficava lá por muito tempo. 
João Viçoso não deixava. Assombrava a todos pedindo.
"Vendam tudo pra que eu encontre uma morada..."


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...