sexta-feira, 27 de abril de 2012

A menina e o monstro - Parte 1

Quanto tempo na mordaça?
Aos poucos as amarras íam se soltando... E a multidão curiosa assistia.
Dalí, o que enfim sairia? Monstro ou menina?
Ninguém sabia...
Ela havia estado alí uma vida inteira...
Um quarto pouco iluminado, pouco ventilado, uma cadeira velha ao centro de todas as coisas que nunca existiram, girando e girando sem sair do lugar... O lugar habitável pela menina...
Um laço se desfazia e a faixa caía mostrando um pedaço de pele...
Pele...
Pele?
Sim... Ela a tinha!
E a multidão a olhava e se comparava... E buscava encontrar a breve diferença... Aquela diferença, que os manteria a salvo de se parecer, em pior hipótese com ela.
Foi então, que a mão da menina se estendeu rumo a porta e viram aparecer por entre as faixas, dedos longos, magros e brancos...
A mão frágil era mão fina, delicada, dos contos infantis, das torres, castelos, agulhas...
Nem para a menina, aquilo fazia sentido... Olhavam-na com tanta bestialidade...
Olhar agressivo, de quem teme o que não conhece!
E uma a uma as faixas cediam àquele corpo crescido, desnutrido, frágil de uma...
Uma menina!
Incrédulos aqueles homens!
Era apenas uma menina!
E o que quer que fosse... E o que viesse... Não espantaria mais aquela gente, do que o que se soube naquele dia...
Uma menina!
Uma menina mágoa... Criada para mascarar suas feridas...
A frágil menina criava em si o caos, fruto da cegueira de outros!
O que viam ali, adornava o monstro adormecido em berço de ouro!
Primeiro tira-se as faixas...
Revela-se a menina e dentro dela nem se percebia a fera...
Aquela que dormia e a menina calava quando tentava gritar!
Que dor essa de um grito colidindo com todos os cantos da alma?!
Céus! Deixasse-o adormecido alí e a menina envolta em faixas... Não deveriam!
Mas que sede é essa de entender o porque de amores estranhos? Sonhos perturbadores? As coisas da morte? As coisas da vida? Esses extremos?
Que adianta também?
Uma vez a porta aberta... Resta sair a menina e o monstro...
Que vença aquele cuja vontade rompante prevalecer...

terça-feira, 10 de abril de 2012

Mais uma vez a morte...

Fui me despedindo de cada verso que já havia escrito...
Lendo um a um, buscando sentir de novo cada um na mesma densidade de antes...
Fui morrendo aos poucos...
É incrível como na hora da morte cada coisa procura nos deixar aos poucos!
O corpo esfriando-se no leito.
O olhar vivo de quem se atrevia a contemplá-lo.
O medo de quem se ía... De se ir só...
E tudo o que eu mais queria... Tudo...
Não me via indo pra longe, longe, longe... De onde nunca mais me saberia sua!
Entre e um e dois golpes de um coração preguiçoso esforçando-se para bater, no leito, ela ainda esperava, apenas um olhar de sua remissão... Quem disse vir?
Não...
Longe, muito longe, ouvia-se falsas notícias dela...
De que estava bem... Já não se lembrava... Já não sentia... Já não chorava...
Vítima das más línguas... Ela mal se sustentava sobre as pernas...
E ía-se a vida...
Apertada no peito, ela se esforçava para ver ao seu redor se por acaso não o encontrava...
Não o viu...
Nunca mais o veria...
Orgulhoso! Ela soube no seu pós-mortem, que ele nunca mais viria! E que talvez nunca estivesse ali...
Fôra apenas fruto de sua imaginação cansada a ideia de que houveram bons momentos...
Talvez, nem ela houvesse existido e fosse fruto apenas da imaginação de alguém, também imaginado...
Nunca perfeita...
Nunca a mais bonita...
Nunca a mais esperta...
Nunca a mais inteligente...
Nunca a mais talentosa...
Sempre a errada...
Sempre a egoísta...
Sempre a mais indigna...
Uma sombra enorme para muitos... Inexistência para outros...
Sorri menina!
Se lá no céu pousares, descobrir-te-á sempre existente nas mãos de Deus!

domingo, 1 de abril de 2012

É pra você...

Eu não te conheço...
Não sei onde você está e nem se me espera...
Mas sinto sua falta como se tivêssemos passado uma vida inteira juntos...
E de alguma forma... Eu sei que passamos!
Eu não sei se você gosta das mesmas coisas que eu ou se as suas diferenças me completaram e vice-versa...
Eu não tenho ideia de como seja seu rosto, seu sorriso, seu olhar... Mas imagino que deva ser muito belo. Daqueles que me farão entender todo o sentido dessa longa espera!
...
Eu encontrei alguns antes de você... Não fiz de propósito! Me perdoe...
Era só minha pressa! Vontade de estar com você e dividir momentos, coisas, sorrisos!
Eu sinto sua falta, mesmo não tendo você aqui... Nunca na minha vida!
Tenho chorado muito a sua ausência...
Será que você também?
...
Estou tentando olhar lá na frente, a minha vida, querendo saber do quanto vou rir disso tudo... E pensar na minha ingenuidade em escrever pra você, que talvez nem saiba que existo!
 
Não tenho muito para hoje...
Mas onde estiver... Se estiver a minha procura... Pegue o caminho mais claro...
Estou sempre nas tardes de cansaço, com o coração apertado, com um nó na garganta, falando pouco para melhor segurar minhas lágrimas, com um terço na mão, pedindo que de alguma forma você chegue logo pra mim...
 
Durmo pensando na sua chegada a minha vida... Ou quem sabe, se já não chegou e eu afoita não vi...
Fantasio o momento que te verei e me verei nos seus olhos e você nos meus...
Dizem que um amor se reconhece no outro... Quero me reconhecer em você! Ou de repente reconhecer o que falta em mim...
 
Não tenho muito a dizer...
Só por favor chegue logo... Fizeram do meu coração alguns trapos... E o que resta da minha imaginação está secando... Tenho medo de ficar fria! Chegue... Antes que eu não consiga mais ser eu...
 
Me disseram que eu era especial... E depois me afogaram em contradições...
Eu pensando que os especiais seriam amados... Isso não me salvou de ser profundamente magoada...
Ele nem sabe que fez isso... E eu nem sei porque fez... Prova de que talvez não seja você e preciso aceitar isso!
Mas me diga... Quando você vem?
 
Isso é tudo...
E onde quer que esteja...
É pra você...

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...