terça-feira, 29 de setembro de 2009

“Os monstros amam, sem saber como amam”

Pensa-se no pensar de coisas. O tempo persisti, e os versos em que me deleito se esvaziaram.
Amanhece pela primeira vez, na terra escura de sonhos néscios. Um olhar no vento, sopro de misericórdia para quem desperta de um sonho para cair em outro. Nem tudo que se pensa, pensar é seguro. Nem versos, nem meios que concordem com tal.
Para onde vou, encontro-te. Frente a frente, não há nada mais a se fazer. Transpiro. Tenho medo. A hora se aproxima. Hora em que me desligarei do pesado fardo de tê-la comigo. Antecipo a sua falta no meu corpo, na minha mente.
Uma oração.
Estamos perto. De longe, vejo aberta. Quem de nos saltar primeiro encontrará pela primeira vez a liberdade. Quem de nós escolher ficar, será condenado. Já disse, não que eu queira, mas o mundo em que vivemos é rígida demais. Assumir nossa loucura e viver de sonhos a qualquer hora pode ser um erro fatal.
Amarraram nossos braços. Provavelmente seremos piada. Ninguém entende.
Talvez ache-me covarde agora. Mas garanto, amanhã verá com outros olhos.
Será difícil no início, fingir que está tudo bem. É muito melhor viver insensato. Sonhar e rir do que ninguém entende. Se houver outra possibilidade eu voltarei pra viver isso. Senão, que bom que ao menos um dos meus lados pode viver a loucura sem que alguém o acha-se ridículo por isso.
Tem muita coisa que quero dizer antes, por isso não pense que será um processo rápido e fácil. Não quero que seja. Tudo deve acontecer lentamente. Com toda a certeza que a rodeia para firmar as verdades que se deseja ter.
Sim, as verdades que se deseja ter. Não as que o mundo tem. Construo as minhas verdades. Vivo e no fim descubro que na verdade sempre foi a verdade de todos.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

“(...) Engraçado o tempo que de tempos em tempos me consome. E restaura-me, porque não lhe resta nada, a não ser isso...”


Olhe pra mim... Por favor olhe... Eu permito que você olhe bem dentro de mim. Se disser que vai entender. Porque não se escolhe ser assim. Não se quer ser assim. Mas é assim. Sente-se assim sempre e enquanto negarmos isso. Será assim.

Tenho vergonha de dizer quem sou. É tão mais fácil ser comum. Ser como os outros e fingir que está tudo bem. Acabo me entregando a poesia. As palavras que outrora chamei de malditas. Aos versos que me intitularam, parágrafos atrás.

Será que você será capaz de entender, sem preconceito a minha dor? Os meus pensamentos? Me justifico dizendo apenas que sei amar... Que sei sorrir... Sei ser feliz, mas as vezes parece tão difícil. Já que você me ama, será que poderia entender?

Preciso terminar de te contar meu sonho... Parei num suspiro...

Pois bem, ele se aproximava cada vez mais e eu podia sentir o frio da pele dele tentando me tocar...

Fechei meus olhos, para tentar fugir dele nos meus sonhos. Eu chorava, minhas lágrimas caiam no chão, lentas, sem vida foi quando a visão do quarto escuro, o caixão, as velas, a espada e o rapaz voltaram, Chorei e minhas lágrimas pareciam cair sobre o rosto dele, quando não me restava esperança alguma mais.
O vi levantar-se, descer as escadas, o meu coração se aqueceu e quem me abraçava antes sentiu o fervor do meu coração queimá-lo, afastou-se antes mesmo de tocar-me. Olhou-me e nos seus olhos vi que ele se perguntava, porque eu não queria. Cheguei a conclusão momentânea de que até os monstros amam. Senti pena, mas isso não abateu o meu medo.

“AFASTA-TE DELA!!!” Alguém gritou. Eu ainda olhava-o. Nos olhávamos. Eu tinha medo, mas tinha pena. Ele me soltou. Afastou-se lentamente, olhando-me e questionando-me. Os monstros amam, sem saber como, amam.

Quando já estava longe de mim, o ouvi dizer: “VAI EMBORA, ELA MINHA. SEMPRE FOI!!” Avançou sobre o rapaz. Ia atacá-lo, quando na sombra entre duas pilastras, um casal de velinhos, surgiu. A voz rouca da senhora, chamou-lhe a atenção: “PARE!! DEIXA TUDO COMO ESTÁ. TUDO A SEU TEMPO. NÃO TEM DE SER AGORA. MESMO QUE ELA ESTEJA PREPARADA.”

Estranho pra você? Mais ainda pra mim, que conhecia aqueles rostos, da minha hora de dormir. Desde pequena sempre que me deitava na cama. Esse casal de velinhos vinha. A senhora era sempre mais astuta e o velinho rabugento. Ela sempre tentava me acordar, mas ele nunca deixava, dizia sempre: “AINDA NÃO ESTÁ NA HORA”. Então me dava um beijo na testa, digo isso porque sentia os lábios gelados, mas não os via direito, porque tinha medo. Depois se afastavam, até sumir.

Eles vestiam sempre a mesma roupa. Ela, um vestido branco. Sempre gordinha e baixinha como ele, que usava uma camisa surrada branca e uma calça marrom, dessas de algodão.

Voltando ao sonho. O monstro parou, como se temesse aqueles dois. Disse apenas que voltaria. Olhou pra mim. Não me lembro do seu rosto, apenas tenho lembranças do que senti no olhar dele, que caminhou para perto daquele casal olhando sempre pra mim, tentando me alcançar... A sombra o cobriu aos poucos, até que não restou nada dele. Fechei os olhos para não ver mais nada.

Quando abri, estava vestida com meu vestido branco, fora daquele salão. Fraca e tonta, era carregada pelo rapaz, que parecia ter asas nos pés. As folhas das árvores batiam nos nossos rostos, nas minhas pernas, no meu vestido. Chicoteavam na minha pele, enquanto eu era levada para fora dali. Por mais, que quisesse, não via o rosto do rapaz. Sabia que ele me levava e que por vezes sorria pra mim. Quando eu quase acordava, me levou para um lago, para molhar os meus lábios. Ouvimos um grito doloroso. Eu sabia que era ele...

Eu não tinha forças, então o rapaz me levantou, segurou-me e levou-me correndo para longe dali.

Não terminamos nosso destino. Acordei antes de chegar...
Por Ana Greice


quarta-feira, 16 de setembro de 2009

“Sendo ausência, doce ou amarga, não importa. Que seja ausência enquanto eu dure e não o outro.”

“Não se vence pelo outro. Vence-se pela necessidade de se vencer sozinho.”
Só um homem venceu pelo outro. Só um homem, amou plenamente. Só um, entre tantos que diziam amar, conheceu e viveu realmente o amor. Ensinou amor, pensou o amor, sorriu o amor, entregou-se amor. Doeu-se amor e venceu amor.
Quem de asas tocar o chão? Será insulto agora, que tenho asas, que toco o véu do céu. Que sei que vôo...
Ouvi dizer, que somos todos pássaros. Isso me confortou muito. De dia em dia, vou a beira do ninho. Inspiro o ar de fora. Assemelho-me aos ventos que me sopram. Expiro. Volto.
Não me falta coragem. Essa eu sempre tive e com ela um desejo enorme de mergulhar vento a dentro. Falta-me saber que sei que posso.
“Ouvir o vento bater no meu rosto como resposta aos meus questionamentos insensatos e esta exatidão de palavras mórbidas.
Engraçado o tempo que de tempos em tempos me consome. E restaura-me, porque não lhe resta nada a não ser isso...”
Somos todos pássaros. Sei e concordo.
Sendo pássaros devemos voar. Ter asas e estar no chão é o mesmo que não ter asas. O problema está em uma corda. Um fio magricela de buraco de agulha.
Amarrado aos nossos pés, ela nos tortura. Aprendemos a voar. Sabemos como toda a técnica funciona. ERA DE NOS LANÇAR!! Tomamos pulso. Abrindo o peito e depois as asas, cabeça erguida... Aff... Erguida demais para quem em alguns segundos, estando um pouco fora do ninho e sentindo encostar-se na liberdade, é puxado para trás pela maldita corda.
Sabe-se sempre que vai voltar... Embora lute-se contra, a experiência é sempre a mesma. Fecha-se as asas...
O peito...
Diminui-se o pulso...
Abaixa-se a cabeça, enquanto nela, tudo se apaga. Nada faz sentido e tem-se a impressão de que nunca houve tentativa alguma de vôo. Por um instante a sensação é de que nunca nos afastaremos o suficiente do chão, do ninho ou da gaiola.
E eu... ainda sei que mereço voar. Tão alto como as águias.
Mas estava lá você. Cabeça erguida.
Segundo você, não precisamos de ninguém. Você é covarde comigo!! Você é arrogante, mesquinha, insensata!! Odeio tanto que amo. Amo tanto que odeio. Não devo deixar de amar, no entanto, mas também não posso permitir mais que me controle. É natureza. É lei, que se estabelece no meu novo curso. Na minha mente...
Penso nas coisas que penso por nós, enquanto você permanece nesse jogo, como se odiasse tanto quanto eu fazer parte de mim. Não estou mais vencendo por você. Não quero salvar você que me destrói, que é corda, peso, que não me deixa voar. Estou vencendo por mim. Que ando combatendo os anseios e os medos que você constrói enquanto durmo.
Não sinto mais doce nas suas palavras. Neste exato momento, enquanto todos dormem, olho-te, encaro-te e não tenho mais medo. Estás nua e as tuas palavras também...
Não que eu também, não esteja. Pelo contrário, acho que sempre estive. Mas sempre fui eu, em todos os instantes. Enquanto você se divertiu usando máscaras e máscaras. Eu... nua, vi, li e re-li as tuas verdades nas entrelinhas dos nossos passos e agora sei, que nua sou muito mais forte.
TRANSPARÊNCIA EM MIM. Eis a minha primeira verdade.
E as tuas?
Onde estão?
Por: Ana Greice

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

“Aqueles que faltaram, os que nunca existiram por tanto jamais sobrariam...”



 Tanta gente passa pela nossa vida. Algumas passam apenas. As que deixam marcas podem optar por deixar marcas boas ou não?
 Não tem como. Deixa-se as marcas apenas. Pensa-se nas marcas apenas e as pessoas, passam...
Algumas voltam outras não...
Envelhecem...
 E o tempo passa, uma porta se fecha...
 Quando a porta se abre, corremos. A impressão não se justifica nos fatos. Não há ninguém. Serramos a porta e voltamos as atividades do dia-a-dia. A impressão insistirá por muitos dias ainda e todas eles serão assim.
 Dia a dia, não se escolhe ser torturado. O mundo gira e tanta coisa permaneci no mesmo lugar, do mesmo jeito, nos mesmos gestos. Nos obrigam a fazer escolhas tão estranhas, tão inquietantes. Obrigam-nos a escolher o melhor da hora da morte daquele que amamos, para lembrarmos todos os dias.
 E vai-se uma veste mais bonita, para a última exposição...
 E vai-se a urna mais bonita, para o último leito...
 Vai-se a vala disponível no cemitério que agradaria o falecido.
 E a família onde vai? Que dor sente?
 Vai-se longe buscar lembranças de dias felizes e dias tristes. Suspirando, transpirando e pensando como seria se... se...
 No ouvido alguém sussurra: “Seja forte”. Quanta hipocrisia!! Ninguém quer ser forte num momento desses! Eu pelo menos, quero sempre lembrar, quero doer, quero sentir até que já não sobre nada sob nada. Voltemos então a ser ausência. Verso.
 Sendo ausência, doce ou amarga, não importa. Que seja ausência enquanto eu dure e não o outro.
 Sendo verso, que seja pleno. Basta. 
Por: Ana Greice

terça-feira, 8 de setembro de 2009

“A claridade da nossa memória brinca todos os dias com nossos brios”

Você pensa no que fez ou no que poderia ter feito.
Pensa em voltar ao passado e mudar suas decisões.
Você gostaria que Deus lhe desse essa chance de voltar e reza para que acorde uma manhã e tudo tenha voltado exatamente aquele dia que você cometeu algum erro.
Falou algo que machucou alguém...
Ou simplesmente não disse algo que poderia ter ajudado esse mesmo alguém ou outro alguém qualquer ou não na sua vida...
Pensamos nos gestos: “Aqueles que faltaram, os que nunca existiram por tanto jamais sobrariam”.
Eu daria tudo agora, pra saber o que acontece com a vida que ela resolve fazer isso comigo. Escraviza-me no meu nada, nas minhas palavras, nos meus gestos e agora nas minhas lembranças.
Cada vez que volto a ela, “a minha memória”, ela me insulta. Para ela muitas vezes sou covarde. Em outras eu me expus demais. Nunca é o bastante pra ela. E nesse momento, quando penso nisso tudo, chego a um ponto obscuro demais. Começo a questionar a minha existência. Dói tanto pensar nela.
As vezes acontecem coisas que me fazem pensar que atrapalho a vida das pessoas que amo. Parece que não sou o suficiente para eles e para mim mesma. Todas as coisas de vida começam a me atormentar incessantemente. Exigindo de mim uma resposta, para todas as perguntas:
Quem sou eu?
Qual é o meu sentido aqui?
O que eu sou para os outros?
O que sou para mim?
Vou parar por aqui, antes que comece a me detestar e isso eu não posso. Tenho que me desvendar antes.
...

Agora que os meus passos são meus e que não há qualquer chance de ser e de estar, ela bate na minha porta. Como quem não quer nada, uma batida no declive, trinta quatro dias de agonia, um suspiro e a. Morte.
Ela chega silenciosa, ágil e voraz. Não há quem não pare diante dela. Não há quem doa diante dela. Todos os amores surgem mesmo aqueles que se acreditavam não existir. Eles vêm acompanhados de lágrimas...
E num momento tudo para e tudo gira...
Tudo se acaba e se inicia de forma tão desalinhada. Não há resposta, apenas perguntas. E nem as perguntas são seguras...
São atrevidas... Inertes... Não há muito o que dizer sobre isso e tanta coisa simultaneamente.
Sabe-se a verdade sobre os fatos. Temos as provas. Está ali o contrato. As testemunhas, o réu e até o Juiz. Dado a sentença, ele também ampara os órfãos e a viúva. E mesmo quando ela chora, mesmo quando se está degustando o amargo dessas cenas...
“Aquieta-te!! Daqui pra frente será apenas Eu e ele. Não me esquecerei...”
Por: Ana Greice

domingo, 6 de setembro de 2009

“e vamos transitando de um universo a outro, como se não fazer sentido algum, tivesse todo sentido.”

Debruçado sobre a janela, o homem de traços fortes admirava a bela menina que brincava eu seu jardim... Não era sua... Nem a conhecia, mas temia por ela, esvaziava-se por ela, desejava tudo por ela, queimava-se por ela...

Bastou-lhe um sorriso, para que soubesse que ela assim permaneceria nele para sempre. Sem ser sua, a menina cresceu, traçou novas metas, saiu do seu jardim, para conhecer outro que a encantara permanentemente.

A menina sorriu. Mas seu sorriso não era e nunca seria do homem de traços fortes debruçado sobre a janela que a admirava... Sua alma gritou para que ela o ouvisse, mas a menina era feliz demais para ouvir os lamentos daquele homem. E então ele chorou, desinteressado da velha vidraça da janela em que tanto admirava a menina, ele sentou-se na velha mesa de sua humilde casa, diante de uma vela quase apagada, “herança de sua falecida esposa seca” e deixou que ela se tornasse seu único objeto de desejo. Se um dia ela se apagasse talvez ele também se apagasse.

A menina foi. O jardim morreu e o homem também.

Num belo dia, a menina passava pela antiga rua onde deleitou sua infância, olhou a pequena casa, sentiu seu cheiro inolvidável, mas tudo estava tão diferente, tudo estava tão cinza que ela não soube ao certo o que era e nem porque gritava tão alto em sua lembrança. Ela correu para janela da velha casa que só não pensou estar abandonada por perceber uma luz fraca, que insistia ultrapassar a vidraça empoeirada da janela...

A claridade da nossa memória brinca todos os dias com nossos brios. Ninguém escapa. Não há esconderijo. Mas vivemos sempre acreditando falsamente que podemos contornar.

Mentirmos para nós mesmos é tão comum e é o nosso mais alto grito de incompetência para conosco.

Cheguei em um ponto de puro egoísmo essencial. Talvez você não me compreenda. Mas nesse momento não posso esperar e nem contar com a sua compreensão. Até porque talvez a minha dor e tudo que me cerca não lhe interessem. Neste caso, faço bem em não vos esperar.

No entanto, caso você venha a sentir as mesmas coisas, não convêm fazê-lo esperar, por tanto, não o farei...

Como dizia, cheguei num ponto de puro egoísmo essencial, aliás para ser sincera não sei bem se é isso. Eu já disse anteriormente que não me compreendo e de fato não compreendo mesmo. Se quer saber, tenho um nó na minha mente. E me parece que quanto mais tento desfazê-lo, maior e mais forte este nó fica de forma que não sei mais as horas que estou sendo verdadeiramente humilde e as horas que estou usando de falsa modéstia.

Afinal de contas o que eu sou? Penso que sou uma vilã as vezes, pois muitas coisas que deveriam doer em mim, não doem. Eu confesso que não sei se é por falta de espaço dentro de mim, depois de estar sofrendo por tanta coisa que eu não sei.

Tenho também as vezes que acho que sou a mocinha da minha vida e que sou vítima das faltas de tantas coisas no mundo. No que vivo e no que transito.

Quem vê os meus risos, pensará talvez que seja plenamente feliz. A verdade, aquela mais pura. É que sorrio para os outros involuntariamente, quando o riso acaba penso no quanto fui idiota em rir e sinto nojo de mim por ter sorrido em quanto tantos a minha volta, aqueles que amo verdadeiramente, não podem sorrir. Eu só queria uma justificativa para isso. Afinal de contas se estou sorrindo quando deveria estar chorando com os meus, porque não consigo fazer isso?

Não é falta de dor!! Acabei de chegar a essa conclusão, pois enquanto falava , meu coração palpitou, queimou tão forte, pensei que fosse chorar, mas não consegui. E agora? Quem se comportaria assim, a vilã ou a mocinha?

Talvez eu seja esse equilíbrio insensato, de passos estreitos, tentando saber onde foi que me dividi e porque o fiz para ficar desse jeito. Eu não me lembro de ter desejado tal coisa. Lembrar-me? Não. Já não sei se é o correto a se fazer. Se voltar as minhas lembranças me fará descobrir que atuação tenho em minha vida, talvez seja melhor guardar isto a sete chaves.

É melhor transitar pelos mundos. E torcer para que minhas respostas estejam neles...

Por: Ana Greice

sábado, 5 de setembro de 2009

“Eu sou a própria máscara, sem verso, nem poesia, que me descreva satisfatoriamente.”


É madrugada.

é quase manhã...

É manhã.

e a manhã me embriaga...

É tarde.

mais tarde como sempre...

É noite.

e será noite, e permanecerá noite até que algum dia... Que algum dia venha e se debruce sobre os meus passos desconcertados na areia do deserto de todos, mas que apenas alguns vêem.

Eu não sei, se foi uma boa idéia abrir meus olhos um dia, para todas as coisas que eu não sou agora. Nem sei mais se é justo fazer isso comigo.

O bem da verdade, é que me sinto só e a busca para não me sentir assim, tem me sugado tanto. É como se eu fosse assombrado o tempo todo por mim mesmo.

O pior é que com o passar do tempo, vamos nos acostumando a essa tortura de não sabermos quem de fato somos e vamos transitando de um universo a outro, como se não fazer sentido algum, tivesse todo sentido.

Aí então, parece que é melhor ser vazio. É mais fácil e ele se torna então, nosso companheiro diário. Fica entre a alma e a pele. Por vezes dói na alma... Em outras fere a pele e nunca sai da mente e nunca se esquece, e nunca aquece, jamais se entrega... Nem possui bandeira branca. Ou morre de fato, ou mata-nos. Se morre em nós, leva-nos. Se mata-nos nós o levamos. E dizem ainda que o vazio não é nada.

Se o é, então é o nada mais persistente que conheço.

Por: Ana Greice

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

“todo mundo ouve, mas fingi que não por pura conveniência”

Ontem eu estava pensando em tanta coisa, na nossa vida.

Eu e você, somos tão próximos e tão diferentes.

Na verdade, eu nunca pensei que chegasse nesse ponto um dia, pra falar mais do que a verdade, eu nunca pensei que pudesse acabar num conflito tão grande assim. Sem saber quem sou direito. Quais as minhas intenções comigo mesma.

O problema, é que são tantas coisas pra se pensar e tantos anseios, tantas loucuras, que fica difícil definir uma apenas para se solucionar. Eu precisava demais que tentasse pelo menos me ajudar a resolver isso, mas toda vez que estou de frente para o espelho, você fica ali, imóvel, esperando que eu me movimente para só então você se mover também.

Me divirto com a nossa loucura, mas estamos chegando num ponto crítico. Vivo num mundo que não compreende bem isso e então é perigoso. Sem contar que você foge sempre que preciso...

Eu choro e você não vê, porque eu não corro para frente do espelho. É doloroso demais, entende?

Eu tenho raiva e você só vem quando quer me fazer explodir, depois você some e então as pessoas, condenam a mim...

É a minha face que leva as bofetadas das pessoas que “NÓS”, amamos. São as minhas pernas, os meus braços e as minhas costas que suportam o peso da sua ignorância, da sua miserável incompatibilidade com o mundo e com a melodia que se toca nele!!

É o meu olhar... A minha palavra...

A minha pele e o meu vazio e o meu coração e... e...

Todas as coisas que você não sente, ou fingi que não senti por causa desse seu orgulho idiota!

Me fazendo passar por cima dos outros.

Eu não sei mais. Eu não compreendo nada de nós e isso me inclui mais do que você as vezes. Você que faz parte de mim!! Você que é meu grito! Você que nunca assume que sou eu.

Eu disse a todos que nunca usaria uma máscara. Não mudei. Eu não uso. Eu sou a própria máscara,

Sem verso.

Nem poesia.

Que me descreva satisfatoriamente.

Sem voz,

Sem luto,

Sem vida,

Sem mundo.

Por: Ana Greice

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

"Hóspede em sonhos tão próximos dos meus..."

Agora, que todos dormem e que há esse silêncio enorme...
Logo agora, eu não sei mais...
O vazio as vezes me silencia e me faz gritar tão alto e tão estridente! É como um grito de vento no meio do deserto, “todo mundo ouve, mas fingi que não por pura conveniência”. Se alguém disser que ouviu, vão responder-lhe com toda certeza, antes mesmo de tentarem ouvir, que foi o calor do sol, que agora os perturba e faz com que comece a ouvir e ver coisas.
O problema é que as vezes o grito que se cala no meio do deserto é aquele que pode melhor avisar e esclarecer ao outro que ele está tão sujeito a ouvir os gritos no vento quanto aquele que já tenha ouvido.
Ninguém está mais, nem menos propício a esse sentimento maldito!! Que nos corta incessantemente. Então, porque se nega tanto, que se possa sentir sozinho no meio da multidão?
O ser humano é muito tardio... Já reparou isso? Chegamos sempre na hora da morte, pra dizer o que poderíamos ter feito... O que poderíamos ter falado... É tão difícil... Somos tardios demais. Porque não abraçamos e falamos o que queremos quando podemos? Por outro lado, se deixamos qualquer palavra sair, elas podem destruir os sonhos de outra... Os sonhos... O sonho... Já havia me esquecido dele. Mas acho que agora estou em condições de terminar o que comecei em páginas anteriores.
Onde estávamos mesmo? Ah! Sim, recordo-me que dizia que estava com um vestido rodado, vermelho sangue, parecia uma dama, mas chorava muito. Apesar de ter subido as escadas eu me encontrava na mesma sala de antes, era como se eu estivesse dentro de um espelho naquele momento.
A sala era escura, com pilastras de mármore largas. Eu tentei encontrar novamente a escada por onde havia subido, mas não conseguia. Então, ele apareceu. Era o mesmo monstro que havia me perseguido quando estava no terminal. Ele não mostrava o rosto, mas o reconheci pelas vestes, pelas mãos e também por um sentimento estranho, que me fazia pensar que já o conhecia de outros tempos.
Então ele veio se aproximando e por mais que eu tentasse me mover para não deixar que ele se aproximasse de mim, não conseguia. Minhas pernas não obedeciam aos comandos da minha mente. Ele sorriu pesadamente, e trouxe para mim uma taça de vinho, enquanto tomava a outra. Eu não queria tomar, queria ir embora. Lembro-me de chorar o tempo todo e me recusar a me aproximar dele, mas sentia que quanto mais me curvava, mais próxima estava dele.
Percebendo minha aflição, ele disse: “Não adianta chorar. Ele não pode vê-la, nem ouvi-la. Cuidei para que ele não nos atrapalha-se desta vez.” Quando ele disse isso, eu confesso que não compreendi bem, pois não sabe a quem ele se referia.
Ele notou que eu não havia compreendido então me mostrou numa breve visão, um quarto escuro, iluminado apenas por duas velas e o reflexo das mesmas em uma espada magnífica. O dono da espada, um jovem robusto, vestido de branco, cujo rosto eu não podia ver, mas só aquela presença me era tão familiar, que ao perceber que o jovem estava num caixão, me desesperei. Eu não sabia quem era, mas parecia ter todo sentido da minha vida e que minha mente havia apagado.
“Viu? - dizia o monstro sorrindo miseravelmente – Ele não pode te ver, nem ouvir suas lágrimas. E agora, o que você pretende fazer?”. Dizia ele, acariciando meu rosto. Eu tentava me afastar daquelas mãos frias e fétidas, mas meu corpo não me obedecia.
A taça de vinho caiu no chão e molhou nosso pés, ele se irritou comigo e tentou se aproximar novamente para roubar-me um beijo. Eu tentei me afastar, mas vi-me desfalecendo e de repente a sombra do capuz do sobre tudo que ele usava, foi cobrindo meu rosto. Eu não conseguia ouvir meu coração, apenas a minha respiração ofegante, após uma luta inútil na tentativa de fazer meu corpo reagir segundo a minha vontade. Ele foi se aproximando... Eu pude sentir a frieza de sua pele, já quase tocando a minha.
Uma mão na minha cintura... Outra acariciando minha face...
Minhas mãos sem vida... Sem força... Sem comando...
Minhas lágrimas tocando o chão...
O vinho, sob nossos pés e um!...
Suspiro.
Por: Ana Greice

Valsa

Não gosto quando ela se aproxima assim... Mas sempre a recebo... Mesmo que não tenha vindo dessa vez a minha casa, parece que ela faz que...